Veja o que Bolsonaro já disse sobre a investigação da trama golpista

Presidente já negou anteriormente envolvimento com tentativa de golpe de Estado

Por FolhaPress
Ás

Veja o que Bolsonaro já disse sobre a investigação da trama golpista

Foto: Alan Santos/PR

Denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob acusação de liderar trama golpista de 2022 para impedir a posse de Lula (PT), Jair Bolsonaro (PL) sempre negou ter se envolvido nas articulações por um golpe de Estado.

Dizendo-se diversas vezes perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-presidente chegou a admitir ter discutido um decreto de estado de sítio após a derrota para o petista, mas disse ter descartado a ideia depois.

Uma versão do documento, que ganhou a alcunha de "minuta do golpe", foi encontrada na sala do próprio ex-presidente na sede do PL em Brasília.
Inicialmente, Bolsonaro disse que se tratava de um documento do processo enviado pela sua defesa.

"Conversei com os advogados e buscamos saber como aqueles papéis estavam lá. No final da tarde, foi descoberto, comprovadamente: aqueles papéis eram peças de um processo que o advogado tinha conseguido junto ao ministro Alexandre de Moraes, que é o relator daquele inquérito. Então era peça de processo. Nada de novidade ali", declarou à TV Record em fevereiro de 2024.

Travestida com ares de legalidade, outra versão do documento foi apreendida na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres. Em suma, estabelecia medidas para anular o resultado da eleição de Lula e manter Bolsonaro no poder.

Posteriormente, o ex-presidente passou a dizer que um decreto de estado de sítio não seria um golpe porque estaria previsto na Constituição.

Por fim, em novembro, ao negar a trama golpista, ele disse que todas as medidas "dentro das quatro linhas" da Constituição foram estudadas, entre elas o estado de sítio.

"Eu jamais compactuaria com qualquer plano para dar um golpe. Quando falavam comigo, era sempre para usar o estado de sítio, algo constitucional, que dependeria do aval do Congresso", declarou em outra ocasião naquele mesmo mês.

A Constituição prevê que o estado de sítio como o instrumento capaz de restringir ao máximo as liberdades individuais, devendo ser utilizado somente em caso de declaração de guerra, resposta a eventuais ataques de outros países ou instabilidades extremas.

Além de negar intenções golpistas, Bolsonaro também disse que jamais teve conhecimento do plano descoberto pela PF que previa o assassinato de Lula, do vice Geraldo Alckmin (PSB) e de Moraes.

"Esquece, jamais. Dentro das quatro linhas não tem pena de morte", afirmou o ex-presidente.

"Tem que estar envolvidas todas as Forças Armadas, senão não existe golpe. Ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. É um absurdo o que estão falando", disse Bolsonaro na área de desembarque de autoridades do aeroporto de Brasília.

"Da minha parte nunca houve discussão de golpe. Se alguém viesse pedir golpe para mim, ia falar, tá, tudo bem, e o 'after day'? E o dia seguinte, como é que fica? Como fica o mundo perante a nós. (...) A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário."

DEFESA NAS REDES

Entre março de 2024, data do primeiro inquérito, e fevereiro de 2025, o ex-presidente citou as palavras "inquérito", "Polícia Federal", "8 de janeiro", "Procuradoria Geral da República" ou o nome do procurador-geral "Paulo Gonet" em pelo menos 99 publicações nas redes sociais. O levantamento foi feito pela consultoria de dados Bites

As publicações têm teor crítico às investigações das quais o ex-presidente é alvo e também falam sobre o episódio de 8 de janeiro de 2024. Bolsonaro sempre se classifica como perseguido político.

A Bites analisa que as mensagens não são as que mais repercutem nas redes o ex-presidente, mas mesmo assim chegam a atingir 600 mil interações. "Isso tem sido suficiente para o Bolsonaro engajar mais do que o próprio presidente Lula, ao longo do último ano mesmo com a investigação", diz o analista e diretor técnico da Bites, André Eler.

Durante seu governo, o ex-presidente já apontava perseguição por parte do STF (Supremo Tribunal Federal), dizendo que ele não conseguia governar e culpando a divisão de Poderes e a democracia liberal pelas dificuldades em seu governo, avalia a pesquisadora e analista política Júlia Almeida.

"É uma disputa sobre o significado de democracia e liberdade. Ele construir essa narrativa junto a sua base foi fundamental para a desresponsabilização dos problemas que deixou como as mortes na pandemia", diz a pesquisadora.

'TRANQUILO'

Em entrevista para a imprensa, nesta terça-feira (18), o ex-presidente afirmou estar tranquilo diante da possibilidade de ser denunciado pela PGR e que acreditava ter os votos necessários na Câmara para aprovar a anistia aos responsáveis pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

"Não tenho nenhuma preocupação quanto às acusações, zero", disse a jornalistas após almoço com senadores aliados.

Apesar disso, uma semana antes da declaração, o ex-chefe de estado afirmou acordar todos os dias com "a sensação de ter a Polícia Federal" em sua porta.

"Eu acordo todo dia com a sensação da PF na porta. Qual acusação? Não interessa", disse Bolsonaro, em entrevista ao canal Auriverde Brasil.

O QUE BOLSONARO JÁ DISSE SOBRE 'MINUTAS GOLPISTAS'

**'Eu não posso decretar' (30.mar.21)**

"Vamos falar nos limites da Constituição. Lá dentro, estão nas cláusulas pétreas o direito de ir e vir, bem como o direito ao trabalho, à dignidade. Quando se fala em estado de sítio, pessoal fala, eu não posso decretar. Quem decreta é o Parlamento. Não existe isso aí. E mesmo no estado de sítio, eu tenho limites e é para uma situação complicada de distúrbio...de qualquer parte do Brasil"

**'Isso não é golpe' (10.fev.24)**

"O presidente não decreta estado de sítio. Ouve o Conselho da República e encaminha para o Congresso. Isso não é golpe"

**'Golpe usando a Constituição?' (25.fev.24)**

"Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha santa paciência [...] apesar de não ser golpe o estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos da República e da Defesa para se tramar ou para se botar no papel a proposta do decreto do estado de sítio"

**'O que acontece com estado de sítio?' (27.fev.24)**

"O que mais se fala na imprensa é uma minuta de estado de sítio, que [eu] queria dar um golpe em cima disso. Primeiro: ninguém dá um golpe em cima de dispositivo constitucional. E como acontece o estado de sítio? São 3 momentos, estado de guerra, se tiver para entrar num conflito; algo que comoção nacional ou quando o estado de defesa, que é o mais brando, não deu certo"

**Proposta ao Parlamento (21.abr.24)**

"Estado de sítio é uma proposta que o presidente pode submeter ao Parlamento"

**'Jamais compactuaria' (22.nov.24)**

"Eu jamais compactuaria com qualquer plano para dar um golpe. Quando falavam comigo, era sempre para usar o estado de sítio, algo constitucional, que dependeria do aval do Congresso"

**'Vocês não têm minuta de golpe' (15.fev.2025)**

"Ontem deu manchete em todo o Brasil: Bolsonaro pode pegar 28 anos de cadeia por causa do golpe. Que golpe é esse? Narrativa sim. Vocês não tem minuta de golpe, nem meus advogados têm essa minuta de golpe"

**'Estou aguardando' (18.fev.2025)**

"Estou aguardando chegar [a denúncia]. Espero que agora eu possa ter acesso aos autos. Você já viu a minuta de golpe, por acaso? Não viu. Eu também não vi. Já viu a delação do [Mauro] Cid? Você não viu. Estou aguardando.

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