Venezuela apaga imagem de silhueta de Lula e bandeira do Brasil com ameaça
Publicação não mencionava explicitamente Lula, mas a silhueta era de um homem com a barba e o cabelo grisalhos muito semelhante ao líder brasileiro
Foto: Reprodução/Redes Sociais
O perfil da Polícia Nacional Bolivariana da Venezuela apagou nesta sexta-feira (1º) publicação com silhueta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a bandeira do Brasil sob a frase "quem mexe com a Venezuela se dá mal". A postagem havia sido feita no Instagram da organização.
A instituição é vinculada ao Ministério do Interior, liderado por Diosdado Cabello, importante figura da ditadura de Nicolás Maduro e um dos responsáveis pela repressão do regime.
A publicação, feita nesta quinta (31), não mencionava explicitamente Lula, mas a silhueta era de um homem com a barba e o cabelo grisalhos muito semelhante ao líder brasileiro --o rosto estava borrado. "Nossa pátria é independente, livre e soberana. Não aceitamos chantagem de ninguém, não somos colônia de ninguém. Estamos destinados a vencer", dizia a publicação, que marcava Diosdado.
O governo brasileiro respondeu com panos quentes à escalada retórica da Venezuela. Em mais um capítulo da crise diplomática entre os países, o Itamaraty emitiu uma nota nesta sexta para se contrapor às declarações venezuelanas.
No documento, o governo brasileiro diz constatar "com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais".
Declara ainda que a "opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo".
A relação entre Venezuela e Brasil se desgastou após a eleição presidencial venezuelana, ocorrida em julho e na qual Maduro foi declarado vencedor em meio a denúncias de fraude e rejeição da comunidade internacional. E degringolou após o veto brasileiro ao ingresso de Caracas como parceira do Brics.
O regime Maduro criticou duramente o governo Lula e o Itamaraty desde que o Brasil bloqueou o ingresso de Caracas no grupo na última cúpula em Kazan, na Rússia. A organização reúne, além de Brasil e Rússia, China, Índia, África do Sul e outros membros recentes, como Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia --Arábia Saudita foi convidada, mas não formalizou o ingresso.
"A chancelaria brasileira decidiu manter o veto que Jair Bolsonaro aplicou contra a Venezuela durante anos, reproduzindo o ódio, exclusão e intolerância promovidos a partir dos centros de poder do Ocidente", afirmou o Ministério das Relações Exteriores venezuelano em nota na ocasião.
Para Caracas, o veto brasileiro "constitui uma agressão e um gesto hostil que se soma à política criminosa de sanções que foram impostas contra o povo valente e revolucionário da Venezuela".
Nesta terça (29), o ex-chanceler e assessor de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou que "a reação que tem havido à entrada da Venezuela no Brics é uma reação totalmente desproporcional, cheia de acusações ao presidente Lula e à chancelaria".
Amorim, que foi enviado do governo federal à eleição venezuelana em julho e mantinha até então bom trânsito com Maduro e lideranças chavistas, foi fortemente criticado por Caracas.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela afirmou na quarta-feira (30) que convocou seu embaixador em Brasília para consultas após declarações de autoridades brasileiras --e fez referência a Amorim como o "mensageiro do imperialismo norte-americano ".