• Home/
  • Notícias/
  • Salvador/
  • Vídeo: pedestres relatam falta de manutenção, acessibilidade e segurança nas passarelas de Salvador
Salvador

Vídeo: pedestres relatam falta de manutenção, acessibilidade e segurança nas passarelas de Salvador

O Farol da Bahia fez um tour em seis equipamentos e registrou falta de iluminação, buracos, lixo e estruturas oxidadas

Por Emilly Lima
Ás

Atualizado
Vídeo: pedestres relatam falta de manutenção, acessibilidade e segurança nas passarelas de Salvador

Foto: Farol da Bahia

As passarelas de Salvador foram construídas com o objetivo de garantir a acessibilidade e segurança no trânsito de pedestres e/ou ciclistas, mas tem causado cada vez mais medo em quem precisa utilizar os equipamentos diariamente, pela falta de manutenção, acessibilidade e segurança. 

O Farol da Bahia fez um tour em seis passarelas da capital baiana, nas regiões de Pernambués, Avenida Heitor Dias (que dá acesso à Via Expressa), Avenida Paralela, Avenida Bonocô e Acesso Norte, e registrou imagens das estruturas, que comprovam a falta de manutenção e abandono, além de relatos dos usuários confirmando a insegurança e como o tamanho dessas estruturas favorece a ocorrência de crimes.

A reportagem observou passarelas com tetos danificados, pisos desgastados e defeituosos, estruturas de ferro oxidado, partes do guarda-corpo roubadas e falta de iluminação, o que contribui para a sensação de insegurança dos pedestres. (Veja o vídeo abaixo)

Questionamentos sobre a falta de manutenção foram feitos à Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal), que informou que cada uma das 30 passarelas assistidas pela prefeitura passam por vistorias a cada três meses, e as manutenções dos equipamentos são realizadas durante as madrugadas. 

O órgão mencionou o vandalismo como principal responsável pela danificação dos aparelhos. "Um ponto negativo, é o vandalismo, pisos são furados para passagens de fios e colocação de barracas. Recebemos dezenas de imagens, com motos, triciclos de entrega de água e gás, além de cavalos e outros usando as passarelas", escreveu por meio de nota. 

Com relação à passarela que dá acesso à Unijorge, a Desal detalhou que as ações foram iniciadas no dia 23 de agosto, onde os pisos danificados foram removidos e trocados. "Continuaremos em curso, sempre das 22h00 às 05h00 [...] na etapa final, todos os pisos serão reajustados", acrescentou. 

Inseguro e nada acessível

Celular e bolsa guardados em sacolas e passos acelerados, é assim que Naiana, moradora da região de Pernambués relata a sua experiência ao andar pela passarela, que que liga o bairro, o Salvador Shopping e o metrô. Ela detalhou que evita sair de casa e ter que passar pela estrutura por causa da falta de segurança. 

"Eu prefiro sair de dia do que pela noite. Eu saí de casa de bolsa e celular, mas está tudo dentro do saco, por causa da insegurança. Eventualmente quando saio pela noite, não pego ônibus, eu vou sempre pelo metrô e saio correndo procurando alguém na rua pra ir junto comigo", disse ao completar que não faz uso da passarela porque se torna inseguro. 

Outra moradora de Pernambués, Emili, também compartilha a mesma preocupação. Ela prefere esperar por um grupo de pessoas para atravessar a passarela em segurança. "Eu saio 20h do trabalho e aguardo outras pessoas que saem nessa faixa de horário para que a gente possa passar de barreira. Esse é um horário que já está bastante deserto e com baixa iluminação".

À reportagem, ela ainda pontuou que acha "desnecessário" o tamanho da passarela. "Eu tiro o horário do descanso em casa, uma hora, mas acaba sendo ruim pra mim porque eu tenho que dar uma volta por causa do tamanho dessa passarela, que eu acho desnecessário. Poderia fazer um corte e ligar com o metrô para facilitar o acesso da gente", sugeriu.

A extensão das passarelas também foi criticada pela presidente da Associação Baiana dos Deficientes Físicos (Abadef), Silvanete Brandão, que relatou que os associados precisam de mais tempo para se deslocar até o seu destino, seja para o metrô ou ponto de ônibus. Além disso, a falta de manutenção também foi citado como um grande problema para quem é PCD em Salvador. 

"Existem sempre reclamações dos nossos associados, que são pessoas com deficiência física, por falta de manutenção das passarelas, naquelas que têm muitos buracos. Além disso, ficaram muito extensas para quando eles saem dos metrôs para pegar o acesso do ônibus, eles andam muito. A falta de segurança para eles é um ponto porque as pessoas não respeitam a acessibilidade, não respeitam a prioridade das pessoas com deficiência",  relatou Silvanete.

Perguntada sobre quais passarelas provocavam transtornos na mobilidade dos associados, ela informou pelo menos três que apresentam problemas. O tema chegou a ser levado pela associação aos órgãos da Prefeitura, mas segundo ela, não houve uma atenção da gestão. 

"A passarela da Rodoviária tem muitos ambulantes, então fica muito complicado transitar, a falta de manutenção da passarela do Iguatemi, e na Avenida Bonocô também. Entre essas queixas, a principal queixa hoje é a extensão. Já fizemos contatos com a prefeitura e com os órgãos responsáveis, mas nada foi dito sobre o assunto", garantiu.

Em entrevista ao Farol da Bahia, o arquiteto e urbanista Pablo Florentino afirmou que a capital baiana é estruturada para favorecer o uso de veículos individuais motorizados, em detrimento de pedestres e usuários de transporte público. Segundo ele, esse favorecimento prejudica principalmente mulheres, idosos, crianças e pessoas com deficiência, que precisam usar passarelas inseguras e hostis.

“O terceiro grande problema é que Salvador é planejada para o veículo individual motorizado. Se a gente olhar o projeto do BRT, tem proposta de mais pistas para os carros, ou seja, é um projeto de transporte público por ônibus, mas coloca no seu pacote um favorecimento para os carros. Quando você faz um viaduto, como demandou o BRT, prejudica o pedestre, que é aquele que está dentro do ônibus. Prejudica a mãe, a mulher, o idoso, a criança, o PCD, para favorecer a viagem do carro que precisa fluir", disse. 

"Constroem uma passarela, coloca a maior parte da população nesse espaço hostil, porque você como mulher sabe: tem coragem de subir numa passarela de noite? Essa política que faz parte de Salvador é carrocrata. É uma cidade hostil da velocidade motorizada onde os espaços públicos não são pensados para os pedestres, usuários de ônibus, ciclistas”, complementou o profissional. 

Elevadores abandonados nas passarelas 

A reportagem também visitou as passarelas com elevadores na Avenida Heitor Dias, que dá acesso à Via Expressa. Na região, oito elevadores foram construídos em 2013 para atender cadeirantes nas quatro passarelas locais. O investimento total foi de quase R$ 5 milhões. Hoje, esses equipamentos são utilizados para acumular lixo, abrigar pessoas em situação de rua e aumentar os índices de criminalidade.

Segundo Ana Oliveira, moradora da região da Barros Reis, a presença das pessoas em situação de rua provoca insegurança na população e que, por esse motivo, prefere sair de casa sem objetos de valor, apenas com o documento de identidade. 

"Ficam muitos moradores de rua aqui, muitas vezes nessa rotatória, o que nos deixa insegura de passar, mas eles nunca mexeram comigo. Mas, ouço sempre relatos, quando vou buscar minha filha na escola, de que teve assalto. Sempre procuro evitar já saindo de casa sem celular, saio apenas com a identidade", afirmou ao site.

Ana sugeriu que, para evitar o acúmulo de lixo e o forte odor no local, além de "aliviar" a insegurança, os elevadores deveriam ser desativados pela gestão municipal. "Acho que seria melhor desativar, já que não têm utilidade. Nem a polícia aparece aqui; quando aparece, faz uma blitz de 10 ou 15 minutos e vai embora", destacou.

O abandono dos equipamentos foi investigado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) devido a um impasse entre a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e a Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob). A Conder foi responsável pela construção e instalação dos elevadores, mas afirmou que a operação seria de responsabilidade da Prefeitura de Salvador. 

Em contato com o órgão do governo do Estado, a reportagem foi informada que a gestão dos elevadores já foram transferida para a Prefeitura. 

Já em contato com a Semob, o órgão afirmou que havia uma nota pronta para ser enviada, mas até o momento, não obtivemos acesso. 

Falta de iluminação 

Durante o tour, a falta de iluminação na passarela do Acesso Norte, que liga o Shopping Bela Vista à estação de metrô, foi um dos pontos que mais chamou atenção. A reportagem permaneceu no local por pelo menos 15 minutos e observou que a luz estava acesa apenas no início e no final da passarela.

De acordo com a pedestre Fabiana, os usuários passam correndo nas passarelas com o objetivo de reduzir o tempo de exposição no equipamento. "É desesperador porque ficamos com uma insegurança absurda. A gente tem que praticamente sair correndo nas passarelas por questões de segurança, não só essa passarela, mas como outras de Salvador. [...] Sempre que entro na passarela, eu saio orando para que Deus me guarde", disse ao denunciar que o problema se perdura por meses no mesmo equipamento. 

Nas outras passarelas visitadas, os usuários relataram que as luzes funcionam parcialmente à noite, deixando alguns trechos sem iluminação. O Farol da Bahia entrou em contato com a Diretoria de Serviços de Iluminação Pública (DSIP), que informou que a manutenção ocorre diariamente em toda a cidade, identificando apagões, e atuando de forma imediata. Sobre a passarela em questão, o órgão afirmou que as equipes constataram o furto das luminárias e a reposição estaria programada para esta terça-feira (27). 

"Em casos de apagões em passarelas, a população pode solicitar reparos ou trocas de lâmpadas através dos canais de comunicação, por meio do portal Fala Salvador (www.falasalvador.ba.gov.br¬), contato telefônico através do 156 ou site Salvador Digital (www.salvadordigital.salvador.ba.gov.br)", diz trecho da nota enviada.

Ainda segundo o DSIP, entre janeiro e agosto deste ano, foram registradas 35 ocorrências de manutenção em passarelas administradas pelo município. Dos equipamentos que continuam sendo alvo de furtos diariamente estão: as passarelas localizadas em frente à Tok Stok, no Caminho das Árvores, próximas à Petrobras, no Itaigara, e em frente ao Shopping Salvador, em Pernambués. 

Confira a matéria completa no quadro "Diz Aí Povo":

 

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br

Faça seu comentário

Nome é obrigatório
E-mail é obrigatório
E-mail inválido
Comentário é obrigatório
É necessário confirmar que leu e aceita os nossos Termos de Política e Privacidade para continuar.
Comentário enviado com sucesso!
Erro ao enviar comentário. Tente novamente mais tarde.