Violência sexual é usada por forças russas na Ucrânia para 'desumanizar as vítimas', diz ONU
Segundo a representante da agência, os estupros são vistos como 'estratégia militar deliberada' da Rússia
Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil
A representante especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Violência Sexual em Conflitos, Pramila Patten, afirmou que os estupros e as agressões sexuais atribuídas às forças russas na Ucrânia são uma "estratégia militar" e uma "tática deliberada para desumanizar as vítimas".
A declaração foi feita em uma entrevista à agência de notícias France Presse em Paris, onde assinou um acordo com a ONG Bibliotecas Sem Fronteiras para apoiar as vítimas de agressões sexuais em conflitos.
"Quando mulheres e meninas são sequestradas durante dias e estupradas, quando se começa a violentar meninos e homens, quando vemos uma série de casos de mutilações de órgãos genitais, quando você ouve os depoimentos de mulheres que falam de soldados russos que usam viagra, trata-se claramente de uma estratégia militar", afirmou.
De acordo com Patten, os primeiros casos foram relatados "três dias após o início da invasão da Ucrânia", em 24 de fevereiro. A ONU verificou "mais de cem casos" de estupros e agressões sexuais na Ucrânia, mas "não é uma questão de números", explica a representante especial desde 2017, para quem "os casos apontados são apenas a ponta do iceberg".
"É muito complicado ter estatísticas confiáveis durante um conflito ativo. Os números nunca refletirão a realidade, porque a violência sexual é um crime silencioso, o menos denunciado e o menos condenado", ressalta Patten, que cita o medo de represálias e estigmatização.
As principais vítimas são mulheres e meninas, conforme e representante da ONU. "De acordo com os depoimentos, a idade das vítimas de violência sexual vai dos 4 anos aos 82 anos. Há muitos casos de violência sexual contra crianças, que são estupradas, torturadas e sequestradas", afirma Patten.