Escrevo esse artigo com base na minha experiência como conselheiro consultivo (CC) e também com base na literatura e nas pesquisas recentes. Há muitos mitos envolvendo o papel de um CC, e trago para vocês dez deles, além das minhas opiniões sobre cada um.
Mito 1: Conselheiro Consultivo é caro
Os conselheiros em geral adequam seus honorários à capacidade de pagamento da empresa contratante. Como muitas vezes se dedicam em agendas pontuais, conseguem ter honorários bastante competitivos. Há também a opção de uma remuneração variável baseada em dividendos e success fee em uma transação de venda da empresa, ou mesmo participação societária mediante ao alcance de objetivos pela empresa.
Mito 2: Conselheiro Consultivo (CC) é a mesma coisa que consultor
O CC tem um escopo mais amplo e mais flexível, e também mais compromisso de longo prazo com a empresa, até porque geralmente empresta sua reputação à empresa, e tem ainda maior interesse em que os resultados do seu trabalho apareçam e façam a diferença para empresa.
Mito 3: Dá para participar de vários Conselhos Consultivos
Isso não é bem verdade. Creio que seja possível conciliar quatro empresas, pois quanto maior a quantidade, menor a capacidade em termos de tempo de aportar conhecimento e relacionamento. Também há a possibilidade de conflitos de interesse entre as empresas contratantes. Por outro lado, as sinergias também acabam acontecendo por meio de similaridade do setor e dos tipos de oportunidades vividas pelas empresas contratantes.
Mito 4: CC só aparece uma vez por mês
Isso também não é verdade, uma vez que uma das coisas que o CC faz é abertura de portas por meio dos seus relacionamentos profissionais e até pessoais. Além disso, captar talentos, que hoje é uma dificuldade grande, tem sido uma das coisas que eu, particularmente, tenho feito. Como disse um jovem CEO, o relacionamento te põe na cara do gol, atravessando a barreira, a defesa etc. Também, mesmo não presencialmente, o CC pode estar pensando e articulando alternativas para a empresa contratante.
Mito 5: CC só dá palpite
Mesmo que fosse só isso, já seria muito útil, pois uma visão externa acaba trazendo novas luzes. Muitas vezes, o papel do conselheiro consultivo não é trazer a resposta, mas sim fazer a pergunta certa, aquela que deixa os executivos/empresários incomodados, promovendo a reflexão, para, então, chegar na resposta.
Mito 6: CC não pode ser trocado
Pelo contrário. A rotatividade de CCs é muito saudável, pois a empresa pode mudar as demandas de perfis ao longo do tempo. Assim, o rodízio ou a combinação adequada de conselheiros com perfis distintos contribuem para a inovação e melhoria da qualidade da decisão. Uma avaliação rotineira do desempenho dos CCs também ajuda no relacionamento profissional.
Mito 7: CC tem que ser figurão
A literatura mostra que, por conta do viés da autoridade, quando um conselheiro é considerado um expert e reconhecido pelos demais pares em um nível muito superior, esse contexto pode provocar decisões sem discussões, o que por si só já é prejudicial, mesmo que a visão do expert seja a vencedora. Se tiver figurão, ótimo, mas cuide para que esse viés não esteja presente.
Mito 8: CC sempre precisa ter as respostas
Sim, é esperado que ele tenha respostas prontas para grande parte dos questionamentos. Contudo, é mais comum que o CC não saiba a resposta, de imediato. Dentro desse cenário, é primordial que o CC pesquise e acione sua rede de contatos em busca dela. Porém, ressalto que na maioria das vezes fazer boas perguntas talvez seja a melhor característica de um bom CC – evidentemente, perguntas que ajudem a chegar a uma decisão, após um processo reflexivo fundamentado em dados.
Mito 9: Não posso contratar um CC pois minha empresa ainda não está preparada.
Pois é, essa talvez seja a principal causa da não contratação, mas talvez seja de fato a verdadeira razão para sua empresa contratar. Se ainda não está preparada, a primeira tarefa do CC é ajudar a realizar essa estruturação.
Mito 10: Não posso levar temas fora do expertise do CC para discussão
Como disse no item 9, a visão de não especialistas sobre o tema pode lançar novas luzes, desde que seja analisado o modelo causal do problema/oportunidade, e que haja um processo crítico reflexivo sobre as dores do negócio.
Espero que esse artigo tenha ajudado você a se esclarecer um pouco sobre o papel dos CCs. Se você quiser saber mais sobre o assunto, recomendo a leitura do livro “Governança em Ação: O papel dos Conselhos Consultivos na profissionalização e no crescimento sustentável das PMEs”, da Maria Tereza Araújo de Souza, fruto da dissertação de Mestrado sob orientação da Profa. Liliane Segura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
José Carlos Oyadomari (PhD.) Professor do Insper e Professor Pesquisador do Mackenzie. Sócio da True Port Advisors. Conselheiro Consultivo da Consulcamp. Co-autor do livro Contabilidade Gerencial (Gen Atlas). . Instagram: @prof.oyadomari https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/ site: oyadomari.pro.br



