A eloquente Anninha: um saber Ancestral

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A eloquente Anninha: um saber Ancestral

Eugênia Anna dos Santos, nascida em 13 de julho de 1869, carinhosamente chamada de Anninha, cresceu e se tornou bastante conhecida em sua barraca de produtos africanos localizada no Mercado Modelo – Comércio de Salvador. Gente de todo o tipo procurava a descendente de africanos que, muito bem arrumada; perfumada; alta e esbelta, não passava despercebida. Inteligente e possuidora de uma excelente caligrafia, Anninha não dispensava a leitura do noticiário local, pois gostava de estar atenta ao que se passava. Engano de quem achava que era analfabeta. Mãe Anninha até francês falava, disse Obá Kakanfô - o Generalíssimo, em relato no vídeo documentário – “E daí aconteceu o encanto” - 1988, ao qual presenciou tal fato, a partir do seu convívio assíduo com a grande Mestra. Certa feita uma delegação de missionários do Congo-Belga da África chegou às terras de Afonjá. Mãe Anninha, elegantemente bem vestida e usando seu lorgnon, falava francês com os convidados. Xícaras de chocolate quente e biscoito Maria adoçavam e acaloravam o encontro. "Vó Anninha era uma pessoa muito culta. Falava com os intelectuais de igual para igual", disse Obá Kakanfô.

Exemplo de sua sapiência foi sua interlocução com Getúlio Vargas, o então presidente da República naquela época, onde conseguiu a liberdade dos cultos religiosos, e, a partir do Decreto-Lei 1202 de 08 de abril de 1939, Artigo 33, inciso 3, foi decretado: “É vedado ao Estado e ao Município estabelecer, subvencionar ou embargar o exercício de cultos religiosos”. Sabe-se que este fato foi consequência de sua influência e dom na retórica.

Anninha tinha a educação como pilar de sustentação para a evolução humana. Certa vez, ela disse: "Quero ver meus filhos com anel de Doutor, aos pés de Xangô", fazendo alusão de que queria ver seus filhos e netos com o diploma superior. Hoje, seu legado serve de referência aos estudos epistêmicos no qual este “saber Nagô” vem se tronando pilar de uma educação afro-referenciada em todo Brasil. No entanto, o que posso dizer é que o espólio de Mãe Anninha tem perdurado desde então. 

Sou de uma época distante, no entanto, tenho vó Anninha como fonte de inspiração. Felizmente pude conviver com pessoas que estiveram junto a ela aqui no Opô Afonjá, a exemplo de Mãe-tia Stella; tia Cantu; Obá Kakanfô e Mestre Didi. Influências das quais me orgulho em ter convivido.  Outras grandes referências foram: tia Detinha de Xangô; Carlos Petrovich; Toinho Kakanfô – todos (in memoriam) Mestres deste saber Nagô. Nos dias atuais, ainda temos: Mãe Ana; Vanda Machado; Fábio Lima; Marco Aurélio; Thomazia de Azevedo; Cláudio Orlando; Muniz Sodré – Mestres deste saber Nagô imiscuído à educação formal, onde veem construindo novos conhecimentos e que mesmo depois de mais de oito décadas de sua partida o sonho em ver seus filhos e netos com anel de Doutor, segue como planejado. Salve Mãe Anninha!

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