Dois fatos históricos, um na Alemanha de 1933, e o outro no Brasil de 1937, figuram nos anais da História tardia. Somente, muitos anos depois, graças ao labor dos historiadores, a verdade veio à tona, não sem antes prevalecerem a mentira e a falsificação, com suas trágicas consequências, que até hoje perturbam a História dessas duas Nações.
O incêndio criminoso do Reichstag, o Parlamento da frágil democracia alemã, meses após a ascensão de Hitler e do nacional socialismo ao poder e no Brasil a divulgação do Plano Cohen pelo General Pedro Aurélio de Góes Monteiro, Chefe do Alto Comando do Exército, são as infâmias que se abateram sobre aquelas nações.
Enquanto as labaredas consumiam o que restava das liberdades públicas na Alemanha, Hitler desencadeava a mais sórdida e brutal repressão sobre os seus inimigos políticos, acusados de autores daquele ato criminoso. Mais de vinte mil alemães foram presos, jornais empastelados, livros queimados emgrandes fogueiras. Estava justificada a instauração do Estado Totalitário.
Entre nós, o Plano Cohen descrevia em detalhes o iminente golpe de Estado, com que os comunistas pretendiamsoterrar o Estado Democrático de Direito, assumir o Poder, defenestrar os seus legítimos ocupantes e dar vazão às suas intenções antidemocráticas.
A História, contudo, não tem bem querer. Não é feita de narrativas volitivas, mas dos vestígios documentais ou testemunhais, que fluem ao longo dos tempos e das inevitáveis transformações políticas e sociais.
Não foi difícil desvendar, tal o volume de pesquisas históricas, artigos, livros, filmes que o Reichstag ardeu em chamas pela ação tempestuosa de um jovem, Marinus Van der Luben, inconformado com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha. A narrativa nazista fez desse ato isolado e equivocado o pavio para tocar fogo na Democracia, implantar a Ditadura e levar o mundo à cruel devastação da guerra.
Igualmente, no Brasil não faltou quem desse crédito ao Plano Cohen, nascido da cabeça fanática e enlouquecida de um Capitão do Exército, de nome Olímpio Mourão Filho, que o concebeu para atender aos devaneios do líder do Integralismo -o fascismo na versão tupiniquim- Plínio Salgado, de quem mais ninguém, felizmente, cultua a triste memória.
Não deixou, todavia, de produzir seus efeitos deletérios, o tal plano urdido por um militar, que exercia a chefia do Serviço Secreto da Ação Integralista Brasileira. Ele foi o“leitmotiv” engendrado em novembro de 1937 para o golpe do Estado Novo, sob o comando de Getúlio Vargas, que até hoje é venerado por boa parte da esquerda brasileira.
Quando no Brasil se busca investigar e compreender as entranhas e mistérios dos acontecimentos de 08 de janeiro, tão presentes em nossa memória, nada mais salutar que rememorar acontecimentos da História contemporânea, afinal corremos o risco de ser vítimas de uma História tardia.