A psicologia da torcida

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A psicologia da torcida

O professor Jaques Akerman , em um ensaio de grande valor acadêmico: A psicologia da Torcida, lança luzes nos questionamentos que muitos têm feito nesses chamados dias de polarização no mundo, em particular aqui no Brasil, estabelecendo-se uma espécie de duas fortes torcidas a favor e contra o presidente da República. De modo tal, que muitos estudiosos do comportamento humano já preveem uma caminhada à violência física, entres essas “torcidas”, isto porque, ao que indicam as redes sociais, os insultos já, afirmam “não satisfazem a necessidade de desqualificação da outra turma”. O que em verdade acontece, afirma o professor Akerman é que “ uma comunidade irá através do narcisismo das pequenas diferenças constituir sua própria imagem a partir do que reconhece como diferença em outra comunidade mutuamente relacionada. A dimensão aqui colocada permite pensar, portanto, sobre a necessidade de existência desta “outra” comunidade próxima para que “uma” possa se reconhecer, permitindo que uma identificação às avessas se produza”. Ou seja, busca-se agrupar onde a identidade de valores e pensamentos se adequam, buscando, assim, uma espécie de outro lado do que não concordo.

No texto “Psicologia de grupo e análise do ego”, Freud se debruçará sobre o funcionamento psicológico das massas e entre outras elaborações dedicará dois capítulos ao estudo dos processos de constituição do psiquismo individual, no sentido de sustentar a tese de que é a partir da estrutura do indivíduo que se pode deduzir a formação dos grupos. O conteúdo individual formará o coletivo por afinidade. A despeito das críticas que podem (e devem) ser feitas em relação a um possível reducionismo que coloca a direção de determinação do funcionamento das multidões partindo do indivíduo, acredita-se, defende Akerman, que a partir da psicanálise, o que estaria em jogo seria o “complexo” que coloca em cena a dialética do ter/ser  na estruturação psíquica do sujeito, para Freud, esse processo parte e deságua num tempo estruturante que é o da identificação, conhecida pela psicanálise como a mais remota expressão de um laço emocional com outra pessoa. Há a ligação estreita entre o mecanismo da identificação e o tipo de laço que se estabelece. 

Gustave Le Bon, autor do século XIX apavorado com o movimento das multidões na Europa (1855]), afirmará e servirá pra os estudo de Freud, que nas multidões “ o heterogêneo dilui-se no homogêneo e as qualidades inconscientes dominam” e acrescenta: “ num grupo, todo sentimento e todo ato são contagiosos, e contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. O indivíduo (entenda-se: homem, racional e adulto) cede ao irresistível apelo do grupo que atua, sugestionando-lhe e contagiando a sua “alma” em direção a obtenção de um prazer e de uma conquista imediatos. A personalidade consciente se dilui, os sentimentos e as ideias de todas as unidades estão concentradas numa mesma direção. Forma-se uma alma coletiva, transitória, sem dúvida, mas com traços muito nítidos. A coletividade transforma-se então naquilo que, à falta de uma expressão melhor, designarei por uma multidão organizada ou, se preferirmos, uma multidão psicológica”. Por fim, e ainda recorrendo ao professor Akerman,  Le Bon apresentará como mecanismo básico, que faz com que o indivíduo perca seus dotes conscientes e mergulhe, nos “eflúvios” que emanam da multidão, a semelhança com um estado hipnótico com a devida submissão ao comando de um líder que tem prestígio”. Assim caminham as torcidas políticas e, no Brasil, em especial, as futebolísticas. 
 

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