O genial cronista Armando Nogueira, em uma de suas crônicas, afirma que “amar um clube é mais que amar uma mulher”, referindo-se ao seu bem amado Botafogo. Confesso que me espantei com a frase logo que a li, embora uma ponta de curiosidade abrisse uma pequena clareira para aceitar aquilo, que me parecia um exagero do mestre.
Lembra o consagrado cronista, na primeira pessoa, que “ao longo da vida, troquei de namoradas, sei lá, mil vezes. E outras mil fui trocado por elas”. Comigo não foi diferente, a não ser que fui trocado mais do que troquei. Isso bastou pra me convencer. O mesmo sucede com todos os amantes.
Eu não troco o Bahia por nada. Ganhando ou perdendo o Bahia é um vencedor nato, ainda que dirigentes, técnicos ou jogadores não correspondam eventualmente às nossas expectativas. A vitória do Bahia tem o sabor da eternidade e a derrota é sempre passageira. Lembra a reflexão de Drummond, quando diz: “eu sei que futebol é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro a gente perde, mas por que é que, quando a gente ganha, ninguém se lembra de que futebol é assim mesmo?” Arrisco responder: tem a ver com aquela verdade bíblica: nasceu para vencer!
Virei Bahia no primeiro instante em que o vi, com sua camisa branca e suas bandeiras tricolores. Na velha Fonte Nova, na geral e na sombra resplandecia a turma tricolor, inspiração do hino que levanta o chão da praça, faz tremer as arquibancadas, os céus e a terra.
O tricolor é poesia e encantamento, um verdadeiro Castro Alves da bola, laureado de glórias e conquistas heróicas, só comparáveis ao canto épico com que o bardo popular destroçou, através de versos e rimas, os grilhões da escravidão. O Bahia tem essa dimensão, que nenhuma clube tem: a dimensão da poesia.
O Bahia tem as cores da Bahia. É o torrão natal, é o chão que pisamos, a terra em que nascemos. Ser Bahia não é uma escolha, é uma aceitação de nós mesmos, é coisa natural. É de todos os santos.
Esquadrão de aço é o seu nome fantasia. Aço temperado de amor e compaixão. Compaixão pelo outro, o rival que “cultiva o prazer da fidelidade da derrota”, necessária e amarga, fruto que nem se come, nem se joga fora.
O Bahia é a cara do povo. Por dentro e por fora. Sua alma ecumênica é de um santo torcedor, ninguém menos que o Senhor do Bonfim, que, em dias festivos, de mãos dadas à Oxalá, recebe em triunfo, no topo da Colina Sagrada, à grande massa para o banquete da vitória.
Afora a irmandade aristocrática, divina e popular da qual o Bahia participa, somos a voz do campeão, a multidão em uníssono, o verbo comum a todos, o corpo místico da bola.
Assim é o Bahia, concede aos seus para o intervalo em que está alma imersa em sonhos, todos os delírios da paixão, todas as graças dos deuses e, ainda por cima, o amor da mulher amada!
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