Para tentar fazer uma síntese rápida sobre o potencial das Artes Plásticas num Sistema Macrossocial o melhor a fazer é pensar nos três grandes eixos de atuação na sociedade: o econômico, o da indústria Cultural e o da educação. Somente assim é possível perceber o que a Arte pode oferecer como ferramenta de transformação social, em diferentes aspectos.
Existem plataformas idôneas que analisam dados sobre a movimentação financeira mundial do segmento. São cifras inimagináveis que indicam, por exemplo, que apenas o mercado de Leilões, como os da Sotheby’s e da Christie’s, alcançou US$ 7 bilhões em 2021. Quando somados às receitas das Feiras internacionais de Arte e das principais Galerias do circuito VIP, falamos de cifras acima de US$ 1,5 trilhões. Informações restritas, de pouca circulação, veladas, e que para muitos pode parecer utopia.
Foto: Reprodução/Redes Socias
Desde 2011 o Brasil passou a integrar esse sistema de metrificação econômica quando alcançou o percentual de 1% de participação financeira no mercado mundial de Arte. Com a força desses números o Projeto Latitude/ArtTactic, uma plataforma brasileira, idônea, começou a monitorar o nosso mercado. Numa subdivisão regional por participação de mercado, os dados expressam uma esmagadora hegemonia do eixo sul-sudeste com até 98% do volume financeiro em negócios com Arte. Negócios esses que no Brasil representam cifras acima de R$ 2,2 bilhões/ano. Enquanto o norte-nordeste, na mesma análise, aparece de maneira incipiente com 2% desse total financeiro.
E por que essa enorme discrepância? Porque não temos um Sistema operante, com circuitos e políticas de incentivo às Artes Plásticas que são imprescindíveis para mudar os fatos.
Entretanto, as Artes Plásticas integram a força da identidade cultural da Bahia; com um potencial intelecto-criativo expressivo e histórico. A Bahia tem relevância artística como representante da Arte Latino-americana para o Sistema das Artes, no mundo. Numa geração mais recente nomes como: Carybé, Floriano Teixeira, Carlos Bastos, Calazans Neto, Genaro de Carvalho, Mário Cravo, dentre inúmeros outros, manifestaram uma pluralidade criativa relevante e deram a chancela dessa ambiência própria para o florescer da nossa Arte. São nomes que fortaleceram esse protagonismo como uma ‘marca’, inclusive no cenário internacional. Na Bahia, indiscutivelmente, há uma vocação natural para as Artes em todas as suas manifestações. Isso é perceptível nos inúmeros nomes que continuam despontando nas mídias e revelando artistas talentosos na música, na literatura, no teatro, na dança, etc., e nas Artes Plásticas, também.
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Agora vamos conectar as sinapses socioeconômica que a Arte promove, como um grande Sistema de engrenagens. A atividade econômica primária, a da venda direta do artista para o público, é uma estrutura geradora de renda familiar. Na venda do objeto de Arte ainda existe o mercado secundário; a venda das obras dos artistas consagrados, colecionáveis, de circuito museológico, de galerias, dos leilões, etc. Esse circuito, por sua vez, já ativa um público de outra faixa econômica, com outros hábitos de consumo, outros meios de promoção, com outros circuitos, etc.
Para a Educação a Arte é matéria do saber. Promove cursos de formação técnica e acadêmica, a Arte como Terapia atende diferentes públicos, desenvolve treinamentos, oficinas, workshops, etc., e várias possibilidades que produzem divisas, desdobramentos comerciais, arrecadação tributária, etc.
A indústria do entretenimento cultural produz Exposições, Feiras Públicas e privadas, os Salões de Arte, as Bienais, os Leilões, Simpósios, etc.; com agendas que conectam o Sistema da Arte com o Sistema do turismo e dos serviços, inevitavelmente. O turismo cultural é uma variante que ativa a economia de países como a França, a Espanha, os EUA, etc., de forma significativa e que possuem políticas de incentivo bem definidas.
Mas, ainda quero considerar um papel fundamental da Arte na inclusão social; que tem capacidade de produzir um trânsito harmonioso entre as diferentes classes sociais. Além de produzir renda e identidade profissional para o Artista, independentemente de sua origem socioeconômica, ela consegue operar como um mecanismo de comunicação social inteligente, interativo, subjetivo, que transmite e interrelaciona diferentes culturas sem os conflitos de classe. Um bom exemplo disso é a Arte do Graffiti que hoje transita nas maiores galerias dos circuitos de marca do mundo, nos grandes eventos do país, nos projetos urbanistas das grandes metrópoles, etc.
Esses elementos constituem uma base argumentativa significativa, em prol de iniciativas para as Artes Plásticas na Bahia, pois são confiáveis. Estão respaldados na História, na economia e na experiencia de países com muito mais ‘lastro’ que o Brasil. E podemos considerar a própria força de um Sistema de Arte operante, como acontece no eixo sul-sudeste, por exemplo. A proposição de agendas, equipamentos públicos e duma política de incentivo, sem dúvida alguma, irá potencializar iniciativas criativas desta terra cheia de ‘encantos’ e rica na sua pluralidade.
A ‘Revitalização do Sistema das Artes Plásticas da Bahia’ é uma bandeira a ser empunhada urgentemente! É uma ‘vocação natural’, sustentável, suficientemente capaz de gerar inúmeros benefícios para as diversas classes e categorias socioeconômicas dessa ‘terra’. Precisamos de agentes e empreendedores para promover ações que estimulem essas mudanças e construam novos protagonismos através da economia, da indústria cultural e da educação que as Artes Plásticas podem oferecer.