Conhecendo o sistema

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Conhecendo o sistema

As instâncias de legitimação no Sistema da Arte são representadas por agentes, pessoas ou instituições, que definem qualidade, valor e a condição artística dos objetos de arte.  

Uma obra de arte tem em seu percurso muitas pessoas e atividades, que são agentes que a sociedade reconhece com poder de opinião para classificar o que seja arte. Essas decisões são aceitas como verdadeiras, ainda que os critérios adotados não sejam conhecidos pela maioria das pessoas. Mas aceita-se o fato que obras de artistas consagrados valham fortunas e ocupem os mais prestigiados museus, sem ao menos ter curiosidade para entender as qualidades delas. “Se um objeto é consensualmente comentado, transacionado e exposto como se fosse uma obra de arte, então ele é, na sociedade e na situação dada, uma obra de arte”

Falamos de capital simbólico, cultural ou social, constituído não só em bens e riquezas econômicas, mas em prestígio, saberes, diplomas, títulos, premiações pertencentes a museus e galerias consagrados e outras relações sociais. Esses elementos apresentam um “poder social”, capital simbólico, que é um instrumento de legitimação. 

Pierre Bourdieu divide em dominantes e dominados, onde os dominantes desenvolvem práticas para conservar o poder, ou domínio, representado pelo capital social acumulado. Enquanto os dominados querem uma subversão, para inverter os papéis, estando em confronto permanente com os dominantes. Segundo o autor, essas estratégias pretendem a mesma legitimidade ou consagração, afirmando com isto o sistema ou as regras desse campo de influência. Como exemplo os salões de arte, que podem representar a legitimação ou entrada no sistema e, por mais que seja este evento contestado, continua tendo numerosas inscrições e participações, inclusive dos artistas que criticam a modalidade. Dominantes e dominados, embora em situações opostas, fortalecem os mesmos princípios do funcionamento do campo (ORTIZ, 1983, p. 23).

Entre os agentes desse sistema na instância da produção, a base que garante a existência do objeto de Arte, corresponde à atividade do artista criador. Entendendo que o produtor é o artista, ou o curador de um evento nesta área, por exemplo. Os artistas emprestam o seu prestígio para instituições como museus e eventos, como os salões de arte, onde participam como artistas convidados, selecionados ou na comissão julgadora.

Já a instância da distribuição é constituída pela atuação dos ‘vendedores’, que são os intermediários, chamados galeristas, marchands ou comerciantes. Nesta instância temos eventos peculiares como os leilões e as feiras de Arte, que formam os preços de referência das obras de arte no mercado. É o ingresso no “circuito dos leilões que representa a chegada de um artista contemporâneo ao escalão mais elevado da consagração social e valorização econômica”. Ainda existem os comerciantes que fazem compra e venda de obras de arte sem possuírem galeria estabelecida. Constituem o chamado mercado secundário e contribuem para a circulação das obras em paralelo às galerias, atestando valor comercial de um artista.

Quanto às galerias, mesmo sendo comerciais, podem ser simplificadas em três tipos: as galerias de novos talentos; as galerias dos artistas valorizados no momento e as galerias de consagrados, onde clientes preferem pensar em investimentos com mais estabilidade no mercado. As galerias ainda realizam a promoção cultural, em conjunto com os críticos e pesquisadores, através de catálogos e livros das obras dos artistas no intuito de promovê-los ou valorizá-los

Na instância do consumo temos os compradores e colecionadores particulares ou institucionais, de natureza pública ou privada. As relações entre as três instâncias, produção, circulação e consumo, caracterizam a dimensão econômica. Existem ainda os jornalistas, os analistas representados pelos críticos, ensaístas, professores e pesquisadores; e os editores, de livros, catálogos, revistas, que podem ser impressos ou eletrônicos. Têm atuação mais informativa ou noticiosa, dos eventos artísticos que ocorrem na sociedade.

Os críticos e os pesquisadores trabalham geralmente com informações, enquadramentos, juízos de valor e reflexões. Os pesquisadores, ocupam um escalão hierarquicamente superior no nível cultural, devido aos títulos universitários, não têm necessariamente influência imediata no mercado. Mas indiretamente acabam influenciando, pois além das atividades nas universidades, onde definem os currículos do ensino da arte e normalmente orientam as atividades nas instituições, são participantes de conselhos em instituições públicas e políticas de cultura, são jurados de salões de arte e orientam os pesquisadores iniciantes. São os maiores produtores de teses, livros e demais publicações teóricas sobre arte contemporânea ou história da arte.

Os ‘Exibidores’ são os curadores e diretores de espaços institucionais ou não comerciais.  Os galeristas também podem ocupar algumas dessas posições na dimensão cultural. A contribuição destes agentes constitui-se na construção de discursos ou elaboração teórica que contribuem para embasar, ainda que informalmente, a valoração das obras de arte ou os processos de legitimação e prestígio no sistema das artes. Os curadores são os responsáveis pela organização e seleção das obras e artistas que integrarão as mostras em museus, galerias ou centros culturais, públicos e privados, ou mesmo os eventos salões de arte, normalmente designados como curadores ou comissários. Os curadores, normalmente são críticos ou pesquisadores e podem ter um contrato institucional com os espaços ou atuar de forma independente.  Na dimensão cultural as figuras-chave são os curadores, enquanto na dimensão econômica são os galeristas.

Considera o colecionador como um comprador cuja motivação não é exclusivamente econômica e participante de duas dimensões, a econômica e a cultural.  Grandes colecionadores deixam suas obras em comodato nos mais importantes museus, enriquecendo substancialmente seus acervos e aumentando o público destas instituições através das mostras destas obras. O Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro e o Museu de Arte Contemporânea em Niterói, por exemplo, acautelam as coleções de Gilberto Chateaubriand e João Sattamini.

A Dimensão Política caracteriza-se pela ação do Estado produzindo uma imagem cultural de progresso e prosperidade junto à opinião pública, o que estimula relações entre o mundo da política e o mundo da arte. E esta relação traduz uma forma de dominação política preconizada por Bourdieu. Os espaços públicos de exposição são, normalmente, os mais importantes para a consagração social.

A legitimação de um profissional das artes visuais é um processo contínuo onde é preciso uma reflexão mais aprofundada sobre as ‘regras do jogo’. O tema precisa ser mais investigado e ampliados os horizontes da pesquisa neste segmento.
 

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