Cisne Vermelho VII

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Cisne Vermelho VII

"Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país", John Fitzgerald Kennedy, em discurso de sua posse como 35º presidente eleito dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 1961, em Washington, D.C.

 

A pressa é inimiga da perfeição, mas, em rios caudalosos, camarão que dorme, a correnteza leva. O Cisne Vermelho tem pressa, não é camarão. Escreve a história na velocidade da inteligência artificial. Muda completamente a ordem mundial do pós-guerra. Trump, com excesso de diligência e transparência, mas escassez de escrúpulos e reflexão, não é a causa, mas o sintoma mais evidente do colapso da social-democracia ocidental; semeada no pós-guerra; vingada sob esterco do comunismo oriental e apodrecida pela sede sufocante de um bem-estar social tanto parasitário quanto ilusório.

Trump obtém aprovação popular prestando contas de suas promessas. Defende o senso comum contra uma agenda agressiva de diversidade, equidade e inclusão que se perdeu em si mesma – narcisismo coletivo que transformou direitos em excesso e deveres em escassez. O senso comum estado unidense vítima de tiroteios cruéis e aleatórios perpetrados por jovens transtornados vive paranoica. Os crimes são relativizados. Ética da religião e do trabalho são estigmatizados. Virtudes, caráter e esforço já não pertencem mais ao vocabulário da geração que, forçosamente, pelo império do tempo, terá que sustentar o país nas próximas décadas. Uma pandemia de inversão de valores, resultante em decrepitude dos pilares que sustentam o salão que esta mesma juventude se farta em todas as facilidades que o mundo moderno lhe entrega. O buraco é bem mais embaixo, é preciso uma ponte para atravessá-lo. Trump pisa fundo no freio de arrumação, antes de cair no buraco. O motorista quer cobrar tarifas para quem quiser entrar no ônibus. Os passageiros construirão a ponte da volta para o futuro. Não há evidências de que o Cisne Vermelho queira destruir o que funciona bem. Seu alvo é a engrenagem burocrática que funciona mal. Uma autofagia social de privilégios inexplicáveis.

Elon Musk, o Cisne Cibernético, erra a órbita da política. Brilhante na lógica, desastroso no humano. Sua conexão é robótica, não humana. Marte o espera. O mundo real exige mais. Sua aventura política é um exemplo vivo da diferença entre inteligência e sabedoria. A Alemanha demonstrou isso. Sua motosserra pode reduzir a burocracia, mas não ceifará ideias nem memórias vivas de tempos sinistros onde a euforia extremista causou tanto mal. 

O Centro Cristão venceu na Alemanha. Mas a extrema direita obteve significativo avanço eleitoral, especialmente nas regiões da antiga Alemanha Oriental, anteriormente sob regime comunista. Prova que a retórica populista tem ressonância entre os segmentos mais pobres e com menor nível educacional, ao contrário dos grupos mais abastados e instruídos. O avanço dos extremos é a fadiga da social-democracia. A democracia precisa se definir: mantém e aprimora suas estruturas capitalistas liberais ou perece na ideologia social-democrata frente a autocracias globais.

O calor ideológico não resiste ao frio cortante do Ártico. A geopolítica é um jogo de pragmatismo e estratégia. Trump inaugura um salão de jogos ultra exclusivo, o C.R.USA. – China, Rússia e EUA – enquanto a Europa, entre hesitação e inércia, observa de fora. O Ártico liga o Atlântico e o Pacífico e possui infraestrutura crucial de comunicações e satélites. Com 6% da superfície terrestre, o Alto Norte se estende ao norte do Círculo Polar Ártico. A área abriga um terço do gás natural mundial, 13% das reservas globais de petróleo e grandes quantidades de minerais e metais raros. Além disso, oferece rotas comerciais importantes. 

O acesso aos recursos é prerrogativa das oito nações árticas – Canadá, Dinamarca (Groenlândia), Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia e EUA. Mas seu valor transcende fronteiras e a China está de olhos abertos com auxílio de periscópios dos seus submarinos nucleares. Os EUA sabem que a supremacia na região será decisiva para sua posição global diante do avanço sino-russo. Razão do Cisne Vermelho grasnar como um pato para acordar o desatento vizinho Canadá e a confortável Dinamarca. Alemanha, França e Reino Unido finalmente discutem ampliação militar. 

A Ucrânia é uma planície violentada. Com amplo litoral, é rota marítima de acesso estratégico ao Mediterrâneo. Zelensky, líder de alta moral e baixa patente, informou a partir das trincheiras o massacrante avanço de Putin. Mas, sem acesso ao gabinete dos generais burocratas da social-democracia, está sendo rifado. A história o julgará. O CRUSA subjuga-o. No equilíbrio de forças momentâneo do CRUSA, uma diferença fundamental persiste: China e Rússia culturalmente precisam de coerção para manter a estabilidade. Os EUA, opostamente, nutrem-se de dinamismo, diversidade, liberdade e propriedade privada. Essa condição é uma vantagem que nenhuma autocracia pode copiar e que nenhum homem, grupo, partido ou seita, por mais que entoem o canto de um Cisne, poderão suplantar. O CRUSA é o primeiro passo de uma nova ordem mundial. O Cisne Vermelho tem pressa. Não há por que se preocupar, a chama da democracia não será apagada pelo bater de suas asas. 

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