Cisne Vermelho XII

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Cisne Vermelho XII

“Sou concidadão de alma que pensa:
A verdade é meu país.” 

(Lamartine, 1790-1869
Poesias Diversas: A Marselhesa da Paz.)

Fundada em 28 de outubro de 1638, a Universidade de Harvard é mais antiga que os próprios Estados Unidos da América. Aliás, a Declaração de Independência dos EUA foi assinada por oito ex-alunos, e diversos presidentes americanos estudaram lá. Trata-se de uma instituição icônica, símbolo de excelência científica e desenvolvimento humano. No brasão, um escudo vermelho, estampam-se três livros abertos com sílabas em latim: “VE”, “RI”, “TAS”, “Verdade”, em Latim. Uma palavra tão perigosa quanto a mentira, tão abstrata quanto Deus e tão absoluta quanto a individualidade. A diferença crucial é que a mentira, tal como a guerra, deve ser evitada a todo custo, enquanto a verdade, como a paz, deve ser perseguida incessantemente. Não há paz na mentira, nem guerra na verdade.
O mundo permanece arriscado, cínico, irracional, opressivo e violento mesmo cerca de dois mil anos após o assassinato, pelo governo romano, de Jesus Cristo, um judeu que pregou paz, perdão, compaixão e amor. A humanidade conta seu tempo terrestre a partir do seu nascimento. Um líder desarmado que foi morto por pregações consideradas ameaçadoras ao poder político vigente. Desde então, sua condição de mártir tem sido explorada para justificar atos contrários à sua mensagem original. Em nome de Jesus Cristo foram feitas guerras sanguinárias, dizimadas civilizações e pilhados recursos naturais como ouro e prata para adornar catedrais construídas para louvá-lo. Se os ensinamentos de Jesus fossem realmente seguidos, não haveria catedrais ostentosas, poder ou patrimônio em seu nome. Jesus Cristo ensinou uma vida de moderação material, compaixão e perdão—uma mensagem pela qual foi crucificado.
A paz nunca virá apenas pela boa vontade ou por intervenção divina. O universo é intrinsecamente caótico, e a paz se estabelece através de uma capacidade circunstancial de defesa, que exige preparação física, liderança racional e força militar. Igualmente essencial é negar espaço ao ódio, buscando um terreno comum entre diferentes crenças humanas: amor, compaixão e perdão. A humildade é crucial, reconhecendo-se que ninguém é absolutamente igual; tentar forçar uma igualdade artificial limita o progresso humano. A verdadeira liberdade está necessariamente acompanhada de limites claros, definidos pelo respeito ao próximo e por normas morais simples e transparentes. A democracia é, portanto, a forma mais avançada de governança humana, exatamente por estabelecer claramente que direitos e obrigações são inseparáveis, garantindo liberdade sem degenerar em anarquia, e autoridade sem degenerar em autocracia.
 


Foto: Penso, logo, existo. Crédito: Matheus Oliva.

Extremos ideológicos e religiosos são terrenos férteis para o instinto humano de dominação, de manipulação através do medo, com a covarde disseminação da mentira, em narrativas, e não pela busca da verdade. O ápice da irracionalidade humana dos últimos cem anos foi o nazismo, cuja pretensão de supremacia racial global resultou na tentativa cruel e desumana de exterminar o povo judeu, perpetrando um genocídio difícil e dolorido de sequer se imaginar. Hitler, Goebbels e seus cúmplices vis, covardes e desumanos suicidaram-se ao perceberem o fracasso de sua luta inglória. Mas fica uma questão: por que os judeus? E por que boa parte da mídia evita aprofundar investigações sobre as práticas hediondas e antissemitas presentes em Harvard? Estudantes judeus estão sendo assediados e violentados em pleno campus. O anuário de 2023 descreveu o massacre de 7 de outubro contra judeus inocentes como “o dia em que a guerra em Gaza começou”, um eufemismo vergonhoso e antissemita.
Harvard enfrenta uma crise moral, institucional e financeira, agravada especialmente após outubro de 2023, quando grupos estudantis culparam Israel pelos ataques terroristas do Hamas. Esse episódio revelou uma captura ideológica antiamericana e antissionista profunda na universidade. Nos últimos quinze anos, Harvard adotou a visão de mundo simplista e maniqueísta. O mundo é de opressores e oprimidos, e, pasmem, os Estados Unidos são os opressores e os terroristas os oprimidos. Visão promovida por programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) que substituíram o mérito acadêmico por critérios identitários. Essa prática resultou na redução da excelência acadêmica, no aumento do antissemitismo e na violação de normas federais. Consequentemente, o governo federal suspendeu seu financiamento e o programa de vistos estudantis após a universidade recusar-se a fornecer informações sobre estudantes estrangeiros ligados a ameaças potenciais.
Numa carta disponível publicamente, o governo apresentou algumas exigências claras e juridicamente justificadas, abrangendo reformas na governança institucional, disciplinar, políticas de admissão e contratação baseadas no mérito, o fim dos programas DEI, cooperação com autoridades e transparência regulatória. Em resposta, Harvard optou pela via judicial e ataques políticos pessoais, aprofundando a crise.
Todo direito implica uma obrigação equivalente, e toda dívida moral ou institucional precisa ser honrada. Nesse contexto, a segurança nacional dos Estados Unidos é soberana em relação à governança de Harvard. A Universidade precisa decidir: reinventar-se, recuperando seu propósito original de excelência acadêmica e responsabilidade cívica, ou será tratada como um risco iminente à democracia americana.
Infelizmente, hoje Harvard representa uma ameaça maior aos valores democráticos americanos do que o Cisne Vermelho.
 

 

Comentários

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RITA DE CASSIA REIS MARTINS SANTOS
Que artigo maravilhoso e realista!

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