Compensação de mal feito

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Compensação de mal feito

Inegavelmente, a linguagem sempre foi considerada pelos que se debruçaram em entender os seus processos e nuances, uma espécie de jogo dinâmico de convencimento e ou justificativa, claro que neste universo sem fim da comunicação do pensar. Há sentenciadores da Sociologia que chegam mesmo a afirmar que, utilizada por pessoas de diferentes espectros sociais e econômicos, ela, a linguagem, sempre moldou o caráter da sociedade. Nesse contexto, os recursos são infindos para fazer valer conceitos, vontades...ou mesmo justificativas. Têm-se tornado recorrentes práticas, neste momento de polarização política, uma espécie de tudo vale para convencer que o meu, o político, o gestor abraçado, é o melhor. Mesmo que para tanto se recorra a mentiras, enrolações, disse, não disse, em suma: o importante é convencer que lado está certo, e, geralmente, é o de cada um. Todavia, chama a atenção um método recorrente, usado, não especificamente por um “lado”, mas por ambos. Uma espécie de compensação de mal feito, ou seja o seu é pior que o meu porque fez mais do que você acusa do meu. 

Nota-se claramente que, não ausência do defensável pela lógica, pelo que seja sensato e justo, apela-se para a compensação. Alguém cita uma falcatrua, o tal outro lado arremessa, pior foi ou é fulano que roubou, que se apropriou disto, daquilo. Gera-se a fuga da argumentação, para, na comparação, pesar o dano maior. Flexibiliza-se, por exemplo, a honestidade, enviesam conceitos que não se relativizam, haja vista que virtudes existem que não guardam meio termos, ou é ou não. Não existe o muito ou pouco honesto,

Toda e qualquer simples consulta no Google vai informar que estas pessoas usam, vejam que interessante, sem se darem conta, o método da dialética de Sócrates, pois a primeira parte do seu método consiste na ironia de retorno, que é o "perguntar, fingindo não saber". Com isso, as perguntas de Sócrates se voltavam para que o interlocutor percebesse que não está seguro de suas crenças e reconhecesse a própria ignorância. Fulano roubou, sim, mas você não fala que cicrano roubou muito, fala? Um não poderia justificar o outro, uma vez que a questão está no comum dos males feitos e não em quem mais mal fez. O objetivo desse jogo de não querer saber de fato o que existe, e tentar colocar o “opositor” em contradições, na busca de aplacar a linha de argumentação, ou mesmo ignorar, o não querer saber de nada de quem defendo, prezo e admiro. Infelizmente isso gera uma grande massa de manipulados, que sacrificam o próprio pensar, abraçando o pensar do outro. O outro sugere, argumenta, mas o concluir deve ser pessoal, individual. 

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