Nesse final de semana uma notícia chocou a classe média baiana, uma vez que dentro do mundo chamado periférico esta notícia tem ocorrido com lamentável frequência. O advogado criminalista, Luiz Meira, foi preso em flagrante nesse domingo (17) após assassinar a namorada, Kezia Stefany da Silva Ribeiro, de 21 anos, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Os dois ao que parecem tinham um relacionamento acerca de dois anos. A vítima chegou a ser socorrida pelo próprio assassino, mas infelizmente já chegou sem vida ao hospital. Meira Júnior é advogado especializado na área criminal e membro da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Bahia (OAB-BA), que lida, dentre outras atribuições, com advogados presos.
Feminicídio, sem dúvida alguma. Todavia, o que me espanta é a forma com que a notícia é vinculada: a conceituação da vítima como “suposta garota de programa” já estabelece uma desqualificação moral, como se fosse...ah! era uma garota de programa. Não!! Não se trata de uma garota de programa, mas de uma jovem de 21 anos, que guardava sonhos e desejos de conquistas. Infelizmente, a sociedade estruturada em conceitos sem qualquer relevância se perde em definições de valores. Sim, valores. O que se nota na “qualificativa” é exatamente o menosprezo, como se a jovem fosse um ser de segunda ou terceira categoria, não alguém de “nível”, ainda se ouve muito isto.
A verdade é que a Bahia tem aumentado os seus casos de feminicídio, um crescimento médio anual de 13,2% de 2017 a 2020. Em quatro anos, 364 mulheres foram mortas em todo o estado, segundo um levantamento inédito divulgado no começo deste ano, pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em parceria com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP).
Pessoas próxima ao advogado acusado afirmam que ele é calmo, prestativo, mas infelizmente matou. É preciso que, assim como de justa causa, o advogado terá apoio de seus pares da OAB e amigos próximos, a jovem Kezia precisa ser, ainda que tardiamente, já que morta, ter a sua personalidade protegida, a fim de que não ocorra o enxovalhamento como justificativa, até mesmo razão para a sua morte. Os movimentos feministas e de defesa da mulher precisam ser atuantes. Kezia era uma mulher, e não importa o que fazia ou deixava de fazer: sua vida foi ceifada, este é o fato, o assassínio. Já morta, e que não matem a sua reputação.