Disciplina nem sempre é competência

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Disciplina nem sempre é competência

Fui professor da Academia da Polícia Militar durante alguns anos, após ter passado toda a minha vida de formação, à época, primário, ginásio e científico, hoje fundamental e médio, no Colégio da Polícia Militar. Sinto-me sobremaneira honrado em ver  meus ex-alunos em posição de comando, alguns já como tenentes-coronéis. Guardo grande orgulho na participação da formação destes oficiais.

Recentemente, uma das turmas me prestou emocionante homenagem, escolhido que fui o professor civil para tanto, em tempo que me pediram que desse uma espécie de aula-recordação, o que foi feito com grande alegria. Dito isso, vivi e entendo que no seio militar existe, sim, o sentimento de hierarquia e disciplina – até hoje meus ex-alunos me cumprimentam generosa e respeitosamente apresentando continência - razão pela qual sempre, dentro do que expressam “missão dada, missão cumprida”, há emprenho na realização da tarefa confiada. Ora, isso, no entanto, não significa que será de forma exemplar, visto que para tudo há de se ter formação.

Entendo, por conseguinte, perfeitamente, o que disse nesse domingo à noite, em seu Twitter, o ministro Gilmar Mendes, após loas ao marechal Rondon e o seu respeito às Forças Armadas, lançou: “Não me furto, porém, a criticar a opção de ocupar o Ministério da Saúde predominantemente com militares. A política pública de saúde deve ser pensada e planejada por especialistas, dentro dos marcos constitucionais. Que isso seja revisto, para o bem das FAs e da saúde do Brasil.”

Sem dúvida alguma, guarda razão o ministro, sobretudo no capítulo da confiança e credibilidade. De ordinário, nenhum de nós abrirá mão de um médico para nos cuidar, em caso de enfermidade, quando, por exemplo, se apresentar para tanto um administrador de empresas. Rechaçaríamos de pronto.  O Ministério da Saúde, neste momento de pandemia, precisa guardar a aura de certeza do que propõe, como uma espécie de fator psicológico de sustentação, diante de tantas incertezas sobre ação e consequências do coronavírus. O ministro interino deve estar conduzindo com retidão burocrática, assim como os seu subordinados, a missão confiada, mas é mandado...não guarda conhecimento científico na área. É muito ruim tudo isso.

Já passou da hora de não mais vivermos o tal “brasileiro deixa tudo para última hora”, no caso, para quando as questões degringolarem de vez. As mortes se avolumam. O nagacionismo do presidente da República não pode guardar pauta de Estado. Ele, certamente, tem os seus problemas emocionais, psicológicos para criar uma bolha e nela deixar penetrar apenas o que nele gera conforto, mas os que está sobre ações de direcionamento coletivo não pode ser amador, ou apenas ser um bom cumpridor de ordem. Precisa saber do riscado, e fazer o contra ponto às questões negacionistas do presidente.
 

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