Os mais velhos devem ter ouvido, em algum momento, nossos pais reclamando sobre algo, mas que nós os percebíamos fazendo semelhante ou o mesmo. Então, dávamos o flagrante o prontamente eles afirmavam: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.”. Naturalmente, com o tempo íamos desacreditando da assertiva, e o conceito desmoronava. Não faz muito, acompanhávamos um alarido enorme por parte de alguns segmentos políticos, bramindo sobre a tal “escola sem partido”. Uma gritaria sem fim, sempre com estrado de que professores estavam passando ideologias, doutrinação para as crianças e jovens. Surgiu um movimento chamado de escola sem partido, ou livre, que afirmava a missão de libertar as escolas do processo dessa doutrinação ideológica de cunho partidário, bem como defendia que questões como religião e gênero tampouco devem ser abordadas em sala de aula, mas apenas na esfera familiar. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a implementação em Alagoas do Escola Livre, inspirado no movimento Escola Sem Partido, decisão que afeta todos os projetos semelhantes nos Estados. Na ocasião, o STF já havia derrubado outras leis sob o mesmo princípio em Goiás, Paraná e Minas Gerais.
Dito isso, vimos que o programa de escolas cívico-militares do governo de São Paulo prevê que policiais militares ensinem os alunos sobre o que são os Três Poderes e as diferenças entre os papéis do presidente, dos deputados e dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A gestão paulista elencou esse tema entre os conteúdos integrantes da atividade extracurricular: “Projeto Valores”, a ser ministrada semanalmente pelos militares nas escolas que aderirem ao modelo a partir de 2025. Os policiais deverão abordar com os alunos conteúdos sobre “valores cidadãos”, “habilidades para o exercício da cidadania” e “direitos e deveres do cidadão”. Os assuntos que ficarão sob atribuição dos militares constam em uma resolução assinada na última quinta-feira (20/6) pelo secretário-executivo da Educação, Vinícius Neiva, e pelo chefe da pasta de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite. O que poderemos esperar dessa iniciativa?
À guisa de curiosidade, fui aluno do Colégio da Polícia Militar de Salvador, Dendezeiros, a partir do ensino fundamental, só saindo com o término do ensino médio (na época científico), durante o regime da ditadura, e nunca tive essa matéria, nem professores militares “ensinando” valores. Havia, sim, a famigerada, EMC – Educação Moral e Cívica, mas tendo à frente não fardados, ao que me lembro eram professoras. Faço esse confronto para clarificar que, em verdade, o que se busca são cunhas para gerar a disseminação ideológica, sim, que possam assegurar um pensamento unitário, em direção única.