Fechamento de igrejas

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Fechamento de igrejas

Uma mensagem publicada neste último sábado (6), em uma rede social da paróquia Nossa Senhora da Conceição e São Justino, em Parada de Lucas, chamou a atenção dos cariocas, bem como da própria polícia. A congregação informava aos fiéis a suspensão de missas e reuniões "até segunda ordem". A postagem, que foi posteriormente apagada, não explicava o porquê, apenas comunicava. Todavia, os moradores da região começaram a dizer que teria sido a ordem dada por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, chefe do tráfico de drogas do Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio, isto porque, imagine, ele é evangélico. Exatamente isto: um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro comete intolerância religiosa, porque é cristão. Até parece conto de Ariano Suassuna ou personagem de Jorge Amado. A verdade é que tudo isso é muito triste e lamentável. A forma com que a proposta da fé cristã chega à sociedade, oferecida por determinados segmentos religiosos é, ao meu entender, totalmente desassociada do espírito cristão. Busca-se o Antigo Testamento, onde se vê passagens mais para guerra do que para o amor, proposta do Novo Testamento. Os atuais princípios pregados, geralmente, não mais se aninham, verdadeiramente, da acepção, inclusive, da palavra religião – religare (criatura – criador).

A relação do humano com o divino se tornou uma via casual aos interesses do momento de ambas as partes: fieis e líderes, de um modo geral. Percebe-se uma centralidade das contradições, em guinada da consolação, da formação de vínculo para o poder. Poder de mando, poder político. O pior é que não vejo perspectiva para o futuro, senão de crescimento dessa forma de encarar as religiões.  A título de registro, Allan da Silva Coelho, doutor em ciências das religiões, ensina-nos, claro, que o conceito de religião poderia ser distinguido, apartado da lógica do sagrado, geralmente, estruturada em muito sacrifício, medo e dor, em uma visão de que a o cultivo, nas religiões é de se pensar na dinâmica de morte, céu, inferno e do sofrimento como legitimação da fé,  através de fundamentos míticos,  acrescidos de fascínio pelo imponderável, pelo desvelo dos chamados mistérios. No entanto, o discurso pula do medo para a manipulação com foco no pessoal dos interesses de suas lideranças. Nas distorções das propostas, nascem pregações que, inclusive, insinuam violência contra os pensadores da diversidade, e do respeito a outras religiões. A ver se caminhamos para uma teocracia. O episódio da ordem do traficante só expõe essas distorções do que, verdadeiramente, é ser cristão e que vivência precisamos ter no mundo, ainda que restrito ao da nossa atuação.

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