Dois episódios se encontram na via de questionamentos sobre como conduzir crianças e adolescentes a entenderem sobre as suas questões sexuais, bem como, naturalmente, a sexualidade humana em seu sentido mais abrangente e condizente com a compreensão variada das suas faixas etárias. De logo, educação sexual não é, de forma alguma, ensinar a fazer sexo, mas criar saberes aos menores para, inclusive, não serem objeto de delinquentes. Foi assim que a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu, na última quarta-feira (31), um estudante de medicina, de 30 anos, suspeito de induzir crianças a enviarem fotos e vídeos com conteúdo sexual pela internet. Segundo a corporação, ele agia em jogos virtuais, foi quando a mãe de uma das vítimas percebeu que os diálogos com o suspeito ocorriam há um mês, durante jogos online dos quais o filho participava. Nas conversas dentro da plataforma e por aplicativo de mensagens, o menor era aliciado pelo homem a enviar fotos nuas, ao mesmo tempo em que recebia vídeos e fotografias pornográficas do suspeito, segundo a polícia. Suspeita-se de venda de material de pedofilia para o exterior. O outro caso foi um pai, aqui na Bahia, em Monte Gordo, que se revoltou, com justa razão, ao encontrar um livro com a sua filha de 11 anos que ensinava práticas sexuais. O livro não fazia parte da biblioteca da escola, mas foi levado, imagine, pela pessoa responsável pelo acervo, que afirmou ser um livro seu, pessoal. Em verdade, entendo, que ambos os fatos só reafirmam a necessidade de se preparar nossas crianças para este mundo que aí está, e que não voltará, nem colocaremos cabrestos para que ele (o mundo) não avance em suas impropriedades e crimes. Precisamos imunizar socialmente os nossos pequenos.
A verdade é que a desinformação, ou mesmo ignorância geram visões distorcidas a respeito da forma que precisamos encontrar para não deixar as nossas crianças e adolescentes tão vulneráveis. O começo, talvez, seja aceitando a ideia de que a sociedade não se encontra da forma que era, quando da nossa infância. O conversar, o educar sexualmente precisa ser visto como uma ferramenta que promova orientação e proteção aos jovens. Repito: a educação sexual para criança e adolescente não é ensinar a fazer sexo, mas conversar sobre as questões, longe de precipitar a busca pela prática sexual, muito pelo contrário, afirma a psicopedagoga Miriam de Oliveira Dias, especialista em violência doméstica e fundadora do projeto Protegendo com amor, onde afirma que tais orientações vão explicar sobre privacidade, autoproteção, sentimento e consentimentos, fazendo os pequenos entenderem a diferença, por exemplo, entre toques naturais e os que não são permitidos, haja vista que de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 76% dos casos de estupro de vulnerável (quando a vítima tem menos de 14 anos), o agressor é um parente ou amigo próximo da família da criança e/ou adolescente, e na maioria das vezes o crime é cometido em ambiente familiar, gerando dúvidas, angústias às crianças por estarem “maldando” atitudes que elas são levadas a “entenderem” como normais. Essas nossas crianças precisam aprender a se protegerem, além, claro, de saberem que haverá um canal para denunciar o abuso, ao que foge ao orientado, o que se pretende aprender nas escolas. Proteger as nossas crianças não é ficar achando que podemos controlar tudo que se passa com ela. De forma alguma. É instrumentá-las para o enfrentamento deste mundo voraz. É o que penso. Preparar, para elas aprendam a se defenderem.