É impressionante quando vemos pela internet pessoas serem atacadas de forma tão violentas, ameaçadas de morte, que ficamos com a impressão de ser algo ligado a algum filme de terror, ou então de relatos dos séculos XV, XVI... mas não, é século XXI e falo da inquisição da internet. Em 1996 um filme ficou muito conhecido, As bruxas de Salém, baseado em fatos reais acontecidos entre 1692 e 1693, em Salem, Massachusetts, nos Estados Unidos. Na época, mais de duzentas pessoas foram acusadas de praticar bruxaria, sendo trinta consideradas culpadas e dezenove executadas por enforcamento. Naturalmente, tudo inventado por adolescentes que queriam se vingar de pessoas, geralmente mulheres, que elas tinham alguma desavença. Foi uma situação dentro do contexto da Inquisição católica, que foi caracterizada pela perseguição e tortura daqueles que desafiavam a narrativa oficial ou questionavam as crenças estabelecidas. Note: aqueles que desafiavam a narrativa oficial, quem contrariasse o que um grupo ou alguém de relevância e prestígio clerical falasse como verdade. Pronto. Nada ao contrário seria tolerado. É ou não é o que vemos hoje em dia pelas redes sociais? Pessoas são torturadas emocionalmente por discordarem ou forem de encontro a qualquer coisa em que um grupo elegeu como o certo, o verdadeiro. Sem falar que mortes já ocorreram, lembram daquela mulher que foi confundida com uma sequestradora de crianças, cujo caso de fake news, um boato tomou proporções de assassinato de uma dona de casa no Guarujá, em 2014, que serviu de inspiração para uma novela da Globo, Travessia? Pois é, como diria minha mãe: quem perdeu a vida foi quem morreu.
O que se percebe, na maioria dos casos, é uma orquestração de grupos criminosos, que usam a internet como instrumento de intimidação, de pressão e claro, disseminação de mentiras, ou de falácias, sempre com o objetivo de desqualificar, atentar contra reputações, vidas...e aí não importa a quem atingir, pois se expõe crianças, idosos o que for necessário para a satisfação da sanha de construção de uma “verdade” que atenda a interesses pessoais ou de grupos. Fala-se em liberdade de expressão, mas o interesse de quem ardorosamente defende a não regulação das redes, é a possibilidade de continuar cometendo crimes e ficar na impunidade.
A mim não interessa o direito de mentir, de falsear a verdade. A você interessa? A quem interessa? Penso que é só buscar a fonte do interesse e aí se encontram os reais motivos. Essas pessoas atacadas, vilipendiadas que todos os dias vemos pelas redes sociais, independentemente de quem sejam, são, em verdade, as bruxas de Salém.