É uma falácia alguém dizer que à eleição de Lula da Silva é indiferente. Claro que não, haja vista que todos, em tudo, guardamos algum objetivo no processo de interação, de interesse mesmo, diante dos fatos que nos rodeiam, quer sejam por questões de ideais, de grupo, pertencimento, identidade, empresarial, religiosas...em suma, neste mundo globalizado, de comunicação instantânea, somo levados por opiniões e ou defesa de pontos de vista que, infelizmente, nem sempre agasalhadas com urbanidade e sentimento cidadão.
Pessoalmente, a eleição de Lula representa, dentro de um contexto democrático maior, em especial, em meu sentir, uma retomada efetiva da laicidade do Estado, sem o protagonismo de religião alguma sobre outras. Víamos o atual presidente fazer questão de afirmar, em direção a um determinado segmento evangélico, mesmo representando um povo diverso, inclusive em religião. Claro que ele tem o direito de ter sua religião, mas ela não pode, por assim dizer, impô-la a uma Nação, como deixou claro no último 7 de setembro, quando, em Copacabana, afirmou: 'O estado é laico, mas o presidente é cristão', ao lado de pastores evangélicos, inclusive de Silas Malafaia, que, por sinal, ontem mesmo, após a confirmação das urnas recolocando Lula na presidência, posta em suas redes sociais que ora pelo presidente eleito e pede a Deus "bênção sobre Lula". Apoiador incondicional do atual presidente, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo frisa ao interceder pelo novo governo que o papel bíblico da igreja é orar pelas autoridades. Não perdeu tempo para o reposicionamento. Não há crítica aqui e sim constatação.
Não há como tergiversar que ao longo deste mandato de Jair Bolsonaro a politização da religião me gerava grande inquietação, inclusive porque via a minha própria religião no embate fratricida, de disputa oracular, para imposição inclusive de mistificações espirituais, em nome de um desiderato que creditavam aos planos espirituais superiores. Engodos.
A satanização de pessoas e religiões me preocupa, em grave receio de um processo, que já estava em curso, em minha análise, de fundamentalismo que poderia desembocar em crescente intolerância, que, honestamente, não saberia dizer onde desembocaria.
Assim, nesse contexto via, em particular, o próprio espiritismo sendo desfigurado com interesse político-ideológico por parte de muitos profitentes. A doutrina espírita assumiu com Allan Kardec a feição iluminista racional, pois ela é elaborada ao abrigo da razão de expressões como René Descartes, Francis Bacon, Galileu, Kepler, Newton... promove uma cultura baseada na “secularização da consciência”, na “geometrização do espaço” e no “mecanismo científico”. É uma fé raciocinada, e estava se derivando para o campo agreste das disputas do “achismo”. Sigamos compreendendo que estamos em uma democracia.