Mulheres se apoiam?

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Mulheres se apoiam?

Olhando o  Instagram me deparei com um post, reportando a uma queda do quinto andar aqui em Salvador, onde a mulher, em novo depoimento, afirma que foi vítima de tentativa de feminicídio. O que, no entanto, me chamou a atenção foram os comentários à notícia, onde predominantemente mulheres se reportaram ao depoimento, ou versão, como queiram, da médica como mentiroso e ela, claro, mentirosa, posições do tipo: “...acho q ela tá mentindo”; “...quem tomava remédio controlado? Ela...Aqui se paga....Ninguém sai vitorioso armado  de mentiras...”; “A pergunta: porque não finalizou esse relacionamento antes?”; “...eu acho que ela está querendo incriminar ele sim”; “Ela tá mentindo.”, A grande maioria dos comentários femininos foi nessa direção. Destaco um, em particular, pela pertinência: “Triste ver o tanto de mulheres que condenam a vítima(...)se fossemos (sic) unidas assim como os homens são teríamos menos violência contra nós (...)”.

Foi, porém, um pequeno número que se posicionou em situação de relacionamento abusivo, a dificuldade de sair e grande parte dos homens (impressionante) se posicionou em defesa da mulher. Naturalmente, aqui não faço juízo de valor quanto ao ocorrido, não gero achismo. Achismo chega a ser leviano. Fui, então, pesquisar a quantas andam o inquérito. 

Encontrei que na conclusão do inquérito, em 3 de setembro, o namorado da vítima foi indiciado por tentativa de feminicídio. O Ministério Público pediu novas perícias, o que foi feito. A principal suspeita da polícia é de que a vítima tenha sido empurrada do apartamento pelo companheiro dela. Ou seja, ainda está em processo de conclusão do MP a fim de, se for o caso, encaminhar denúncia à Justiça ou não. Volto, no entanto, a considerar o descuido de mulheres com as suas próprias iguais, em posicionamentos, ao meu juízo, infelizes a cerca de vítimas de violência de qualquer natureza. Se ela caiu porque quis, foi jogada...tudo será esclarecido. Inclusive, a pessoa que faz a comunicação de um crime que não ocorreu, gerando problemas à autoridade na investigação, pode ser responsabilizada pela comunicação falsa de crime, previsto no artigo 340 do Código Penal, e está sujeita a uma pena de até 6 meses de detenção e multa. O fato, por outro lado, grave, é que um feminicídio, dizem as estatísticas, foi praticado no Brasil a cada nove horas entre março e agosto, com uma média de três mortes por dia. São Paulo, com 79 casos, Minas Gerais, com 64, e Bahia, com 49, foram os estados que registraram maior número absoluto de casos no período, ainda que tenha havido uma queda de 6% no mesmo período do ano passado. 

Estudiosos do tema alertam que há, e muito, doutra parte, subnotificações, haja vista que ainda há confusão entre  feminicídio e homicídio de mulheres. As mulheres precisam ser mais apoiadoras entre si, evitando achismo e conclusões precipitadas. A vítima será sempre uma vítima, do outro ou dela mesma. 

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