A imagem traduzia um quê de melancolia no ar: o homem mais poderoso do mundo caminhava cabisbaixo para o helicóptero que o levaria a um hospital da capital americana. Donald Trump traduzia em sem semblante um ar cansado e preocupado. Assim é a vida. Não somos invulneráveis, somos frágeis e tudo pode mudar de uma hora para outra, em uma espécie de perda de controle sem a nossa permissão, e quanto menos reconhecermos a nossa fragilidade, ainda que possamos muito, nunca poderemos tudo.
No inusitado da vida seremos sempre lembrados de que a ação humana não é onipotente, de que há resultados inesperados e fora do controle da própria pessoa, e que coisas acontecem com quem até se sente imbatível, meio que homem de aço, mulher maravilha, haja vista que ninguém está imune à humanidade de ser. Razão pela qual precisamos não apenas criar imagens de superpoderes, mas nos vermos como humanos. Necessitamos, isto sim, de plasmar em nós mesmos a consciência de que tudo é transitório e se esvai, muitas vezes com a rapidez que não queremos. É a enfermidade que chega sorrateira e nos nivela às dores que um dia desdenhamos. É o envelhecer que dia a dia nos faz lembrar que não somos como há 10, 20, 30 anos...é a vida em seus ciclos inexoráveis tentando nos acordar para o que, de fato, somos e não o que fantasiamos.
Feliz e sábio é quem vai aprendendo, inclusive, com os outros, com as suas lutas e dificuldades, criando em si mesmo o armazenamento emocional necessário para, se quando preciso for, saber lidar, repito, com o inusitado, o inesperado e até o indesejável. Viver sempre será a ciência do se autodescobrir quem é, onde há fragilidade de ser, neste desvendar de si mesmo contínuo e permanente, porém mesmo assim a existência é formada por elementos que fogem absolutamente ao nosso controle. A filosofia chamará a isso de contingências.
Assim, quando vemos o homem mais poderoso do mundo se deixar conduzir a um hospital, certamente sentido o medo da sua fragilidade, chegamos à conclusão que nada na vida deve ser negado, nem servir de obstáculo ao nosso crescimento, em um evoluir constante à nossa humanização e maturidade, a fim de que abandonemos as premissas da nossa arrogância, depurando as certezas equivocadas que somos o que sabemos e dominamos tudo, em sua medida relativa.
Ao que tudo indica, o homem mais poderoso do mundo voltou à sua casa, podendo ser até o ano que vem ou mais quatro anos, mas mesmo assim ainda será passageiro. Que se recupere bem, como a todos que padecem alguma dor, em especial neste momento de pandemias e incertezas.