O conflito geracional nas pequenas empresas familiares

Ás

O conflito geracional nas pequenas empresas familiares

O choque entre profissionais de diferentes idades tem sido recorrente nas empresas familiares. Aqui relato alguns casos com os quais tive contato.

M. tem a mesma profissão do pai, que tem uma pequena empresa de serviços. Ela é quase uma empresa individual, e precisa recorrer a terceiros quando pega um projeto maior. O faturamento está diminuindo de tamanho ano após ano, e M. não vê o pai se modernizando.

M. até tenta ajudar, mas o pai resiste, ele não aceita as ideias da filha. Assim, M. fica frustrada, pois poderia até tentar dar continuidade na empresa fundada pelo pai, já que tem duas graduações que são correlacionadas e sinérgicas: direito e contabilidade. Tudo a ver.

Contudo, M. praticamente desistiu da ideia de ajudar seu pai e já busca novos horizontes profissionais. Além de continuar na área de atuação, começou um curso de graduação na área tecnológica.

W. já trabalha na empresa da família há dois anos. Combinou o início do curso de graduação em administração com o trabalho em tempo parcial na empresa. A cada disciplina, W. explorava os professores, no bom sentido, sempre buscando aplicar cada conceito aprendido para as situações vividas pela firma. A empresa da família tem problemas para resolver, mas o pai de W. acha que são problemas demais para ele dar conta. Em uma tentativa de preservá-lo dos riscos, W. aceitou, resignado, mas não deixa de participar do projeto de recuperação da empresa. Creio que nesse caso, W. é a melhor pessoa para fazer a reestruturação e seria uma grande experiência para o crescimento profissional e pessoal dele. 

Conversando com T., este me fala que o pai tem uma empresa que começou do zero, e sem herança. Na realidade, a família sequer tinha recursos e passava dificuldades. O dilema de T. é que ele me diz que quer trabalhar na empresa levando um pouco do que aprendeu na faculdade, mas o pai resiste, pois aprendeu tudo na prática e sempre deu certo.

Y. tentou trabalhar na empresa do agronegócio do pai, mas, depois de muitas divergências de ideias, ela decidiu abrir uma empresa de serviços. Porém, a realidade é que ela tem interesse em outra área, que requer mais capital. Recomendei a Y. que o seu pai investisse nessa sua nova empresa, seja já fazendo uma transferência de parte da herança em vida ou ainda como acionista mesmo. Ela pareceu achar uma boa ideia, mas de fato não sei se falou com o pai depois desse contato que tive ocasionalmente com ela.
Deixo aqui algumas observações. A primeira delas é que os filhos podem ajudar os pais a conhecerem outras experiências exitosas de outros empresários que passaram pela mesma situação. Com isso, eles podem aprender por meio de comparações em situações e perfis que estejam mais ambientados (cursos e visitas a outras empresas e conversas com outros empresários podem ajudar). A segunda é que os filhos reconheçam que os pais têm conhecimentos não sistematizados, mas que aprenderam na prática, e que as teorias de hoje, quase todas, foram desenvolvidas a partir das observações dos pesquisadores junto à realidade. A terceira observação é que os filhos possam fazer o que gostam, o que tenham vocação. Lógico que podem experimentar atuar na empresa antes de se decidirem e, caso não sejam os sucessores, que partam para a quarta observação: considerar a venda do controle ou mesmo o encerramento do negócio.

No final, o que importa mesmo é que a família possa ser preservada. Empresas são importantes, mas não deveriam ser a razão de desavenças que separem gravemente os familiares. Tomo essas observações para mim mesmo, pois em 2024 vou começar um projeto junto com meu filho, na área de atuação dele, que é a comunicação.

Volto em janeiro de 2024. Desejo que tenham um Feliz Natal e que possa ser na presença dos seus queridos. Feliz Ano Novo.

José Carlos Oyadomari é Professor Doutor em Controladoria, atua pelo Insper e Mackenzie. Consultor do MA Institute. Conselheiro da HVAR Consulting. Co-autor do livro Contabilidade Gerencial – Gen Editora. @prof.oyadomari  e-mail: [email protected]  https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/
 

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