Riscos: porque é necessário monitorar

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Riscos:  porque é necessário monitorar

“Não ponha todos os ovos numa cesta só”, já dizia sua avó. Esta foi a primeira lição que você teve sobre riscos. Eles estão em toda a parte e em todos os aspectos da vida humana, pessoal, profissional e empresarial. Nesse artigo, me proponho a discutir alguns desses riscos e algumas práticas para monitorar, gerenciar e mitigar os riscos.

Riscos podem ser operacionalizados como a volatilidade, empresarialmente falando, grande oscilação das receitas, custos, dívidas e investimentos. Se as operações podem sofrer alterações significativas bruscamente, isso é sinal de que ela tem altos riscos, por exemplo se os clientes e fornecedores deixarem de fazer negócios com a empresa. Internamente, podemos ter equipes e até mesmo a alta gestão inoperantes ou ausentes de uma hora para outra, ou ainda falta de outros recursos necessários e vitais para operação, principalmente com os riscos climáticos e cibernéticos. 

A busca por ganho de escala levou à preferência por ter poucos clientes e fornecedores, pois diminui a complexidade, mas isso aumenta substancialmente os riscos. Uma indústria química internacional percebeu na pandemia da COVID-19 que cerca de 60% dos insumos serão abastecidos por apenas um único fornecedor da categoria. Reduziu-se os custos de transações, mas aumentou-se demasiadamente os riscos por concentração.

A diversificação de receitas é defendida como a melhor maneira de diminuir ou diversificar os riscos. Exportação e mercado local. Diferentes canais são exemplos de diversificação. Por exemplo fábricas de aviões produzindo aeronaves para aviação comercial e para defesa, que são à primeira vista negativamente correlacionados, além de aviação executiva. Mas sempre é importante lembrar que, como nos ensinam os especialistas em operações e estratégia, a diversificação de negócios geralmente é mais exitosa quando existem sinergias em termos de clientes, recursos e competências. A diversificação de tamanhos de clientes também faz sentido, pois é interessante que o poder de barganha dos grandes clientes não aumente a ponto de diminuir as margens. Faz sentido dar condições que permitam que os pequenos clientes possam competir com os grandes clientes.

A diversificação dos investimentos também é recomendada. Recentemente, um consultor independente de investimentos questionou um investidor, cuja fonte de renda é oriunda do agronegócio, por que ele também investia em papéis de empresas do agro, concentrando o risco tanto do fluxo de caixa como do patrimônio. Também não é aconselhável buscar rendimentos financeiros altos quando se aplica o caixa da empresa, corre-se o risco de da noite para o dia ficar sem caixa e pior com dívida. 

Crescer aceleradamente também representa um risco. B. e C. São empresários e me contaram que muitos perguntam por que a empresa deles não cresce exponencialmente. O casal responde que crescer dessa forma implicaria em aumentar os riscos, contratar mais funcionários, investir antecipadamente e entrar em mercados que não dominam. Trata-se de uma empresa de serviços que não tem contratos fixos com os clientes, e para crescer, ela teria que aumentar os custos fixos, e sair correndo atrás das receitas, provavelmente demorando tempo demais para atingir o break-even. 

Sobre o risco de sucessão, falo agora para os empresários que, por necessidade ou estilo gerencial, concentram muitas decisões em suas mãos. Alta concentração pode significar riscos, pois sabemos que quando falta tempo para cuidar da saúde, aumenta-se o risco da pessoa física que acaba afetando a jurídica. Em um artigo anterior destaquei o papel dos controles gerenciais para melhorar a delegação tão necessária nesse tipo de situação. 

Já sobre os riscos de desastres, uma pesquisa mostra que gestores com experiências prévias em desastres desenvolvem ações mais eficazes, comprovando o ditado “gato escaldado tem medo de água fria”. Agora, com as mudanças climáticas, faz-se necessário mapear como essas variáveis impactam os seus negócios. Até o vinho produzido em Mendoza está agora sendo produzido mais longe de lá afetando os custos, nos informa a matéria da Reset.

Existem mais riscos que não consegui abordar aqui. Precisamos estar consciente dos riscos, ter controles que monitorem esses riscos e tomar decisões fundamentadas nas melhores técnicas.

José Carlos Oyadomari é Professor Doutor em Controladoria, atua pelo Insper e Mackenzie. Conselheiro da HVAR Consulting. Diretor de Parcerias da TRAAD Consultoria Independente de Investimentos. Co-autor do livro Contabilidade Gerencial – Gen Editora. @prof.oyadomari  e  https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/

Referências: 
https://capitalreset.uol.com.br/agronegocio/agricultura/clima-altera-o-mapa-dos-vinhedos-na-argentina-e-no-chile/
Oetzel, J., & Oh, C. H. (2021). A storm is brewing: Antecedents of disaster preparation in risk prone locations. Strategic Management Journal, 42(8), 1545–1570. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/smj.3272
 

 

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