Não é de agora que Lula vem falando em governança mundial. Sempre a mesma ladainha, repetindo as mesmas frases, em tom professoral -como se fora um sábio dando lições ao mundo.
Para ele, os países do mundo são desobedientes e não levam a sério importantes recomendações nascidas em cúpulas mundiais. Esse caráter anárquico, todavia, típico das nações que integram o cenário mundial, cada uma com seus interesses, com suas culturas, suas experiências e suas Histórias particulares, forma um mosaico rico e diversificado, nem sempre harmônico ou consensual.
O mundo é assim, sempre foi e continuará sendo, sobretudo com o advento do Estado nacional, um processo histórico que se desenrolou durante a formação dos tempos modernos e que, certamente, constitui-se numa conquista da civilização e da cultura política das nações. A Democracia liberal deu feições mais definitivas e orgânicas a essa configuração política da humanidade.
Lula pretende contrariar o curso da História humana. Isso só pode ser resultado da sua mente semiletrada, da sua ignorância nata.
Na História já houve quem imaginou um sistema garantidor da “paz perpétua” kantiana. Wilson, presidente dos Estados Unidos propôs a criação da Liga das Nações, em 1919, porém seu fracasso pode ser mensurado pela recusa do próprio Congresso norte-americano de nela ingressar e a Organização das Nações Unidas -ONU, criada em 1945, vive seus momentos crepusculares. Tais organizações, contudo, estão longe de representar uma governança mundial, como quer o saltitante presidente do Brasil.
Uma tal governança mundial, se porventura vier a ser um consenso entre os países do mundo, certamente sua liderança e poder de decisão, caberá aos países ricos e poderosos, a menos que uma mente ingênua acredite que os Estados Unidos, a China, a Rússia, a Alemanha, a Inglaterra, a França, o Japão dividirá com outros países o poder de que são detentores, em razão de suas incomparáveis vantagens econômicos e poderio bélico-militar.
Lula se mostra inconformado com o fato que as recomendações adotadas numa conferência internacional, como a que agora se realiza sobre o clima, necessitem da aprovação do Congresso Nacional para serem implementadas no país, uma vez que a apreciação ou mesmo a recusa por parte da representação democrática da nação são estorvos que devem ser evitados.
Se no passado histórico tivemos os “déspotas esclarecidos”, nos dias de hoje desponta a figura intolerável do apedeuta totalitário, que não pode suportar senão o império do pensamento único, o extermínio do debate público.
Uma governança global corresponde a uma absoluta centralização do poder e à transferência do mesmo para fóruns distantes e estranhos à participação do corpo eleitoral da nação. Tal sufocamento da vida democrática expõe a completa subtração da soberania nacional e abre caminho a golpes mais violentos e insidiosos, até mesmo à integridade territorial do país.
A atual condução governamental do país tem ferido de morte as nossas instituições democráticas e desprotege nossos legítimos direitos permanentes. Se a governança mundial suprime instituições vitais para o funcionamento regular da democracia liberal, é também uma ameaça ao nosso patrimônio ambiental, uma vez que ele tem influência visível no ambiente planetário.
Não tem faltado investidas de nações poderosas a respeito do espaço amazônico brasileiro, bem como a escancarada ambição sobre o valor econômico da nossa rica biodiversidade, cujas ameaças encontram terreno fértil sob uma governança global plenamente estabelecida.
O que a todos tranquiliza perante esses perdulários e beócios argumentos de Lula, é a cara de paisagem de alguns líderes mundiais durante a fala do Presidente do Brasil durante a COP28.