Não faz tanto tempo assim, a discussão predominante no país era a corrupção, que alcançava níveis inusitados. Todos conhecem a teia desvendada pelo Mensalão e Petrolão. Descrever os acontecimentos que chocaram a nação estarrecida, é chover no molhado.
As condenações exaradas pela Justiça, os acordos de leniência entre os criminosos e o Ministério Público Federal, o montante dos valores devolvidos à União, a reprodução dos mesmos crimes em outros países do continente, são evidências que estivemos a braços com a corrupção mais escandalosa do planeta.
Toda essa solidez, contudo, como diria Marshall Berman, o famoso crítico norte americano, se desmancha no ar, para ceder lugar à uma nova história, na qual tudo não passou de um delírio judicial.
Não se encontra hoje uma viva alma cumprindo pena, entre os centenas de condenados no Lava Jato e as multas pecuniárias decorrentes dos acordos de leniência estão sendo anuladas pela mais alta corte judiciária do país, em pleno luz do dia, e já perfazem o perdão de mais de 14 bilhões de reais.
A justiça promotora de toda a devassa, ainda que tivesse cometido pequenos deslizes formais, está sendo levada ao paredão, seus juízes desautorizados e considerados parciais e um ex Presidente da República, é arrancado da cadeia por filigranas processuais e seus crimes são prescritos.
Não se fala mais em corrupção. Nos dias atuais os crimes mais evidentes e perigosos são os ataques ao estado democrático de direito e o planejamento não executado de golpe de Estado.
O inquérito do fim do ano, como o chamou um ex ministro do STF, Marco Aurélio, presidido pelo Ministro Alexandre de Moraes já devorou, na sua sanha repressiva, os valores mais caros à Democracia, como a livre expressão e o devido processo legal.
A caça às bruxas faz da Constituição Cidadã letra morta. Mandatos parlamentares são agredidos quando se valem dos seus direitos constitucionais, publicações são desmonetizadas e proibidas, multiplica-se o número de exilados políticos, sonega-se aos milhares de presos políticos direitos fundamentais, razias policiais são deflagradas na casa de militares e civis acusados de planejarem um golpe de estado que sequer teve início.
O país vive momentos de medo e intranquilidade e vê distanciar-se no horizonte político a tão desejada pacificação dos atuais conflitos, cujo desfecho são desconhecidos.
É incerto e perigoso quando as forças detentoras de poder sonegam às demais correntes políticas, as vias democráticas, através das quais se inserem no jogo político e disputam com as mesmas regras o espaço que o equilíbrio institucional lhes confere. Essa situação imposta às correntes de Oposição aprofunda as divergências e conduz a impasses, dividem a Nação e impede um percurso de paz e convivência.
Eliminados os canais de diálogo e conciliação, a linguagem política se assemelha a uma macacaria, destituídos de um horizonte racional e desejável.