O processo

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O processo

A revelação de Franz Kafta, certamente estarrecido com a pantomina encenada por homens acostumados a mentir e falsear, é tão chocante, quanto verdadeira. Ele disse: “tive vergonha de mim próprio quando percebi que a vida é uma festa de máscaras e participei com meu verdadeiro rosto”. Assisti o desenrolar do processo judicial sobre a tentativa de golpe de Estado e me vi envolto num baile de máscaras, onde os atores exibiam o malabarismo de suas ideias preconcebidas. 

A começar por Flávio Dino com suas citações da Bíblia e seu gestual esvoaçante, como se fosse decolar ao estilo de um zepelin inflado. Com ares de profeta dos tempos antigos, foi no primeiro livro do Antigo Testamento, o Genesis, o princípio em hebraico, que ele falou da  criação, por Deus – perante Quem nunca ajoelhou – da terra sem forma, vazia e sem luz,  que ele comparou com o próprio TSF, convenientemente omitindo tais características, e o mar sobre o qual Deus se movia, sob a face das águas. Por fim, Deus criou a luz. Para o novíssimo cristão, sem peias na língua, o togado não hesitou em intercalar a douta PGR entre a terra e o mar, com sua maldosa explanação sobre a “minuta do golpe”.

Não contente com a enxurrada de asneiras sobre a criação divina, o misterioso apelou para o fato bíblico, tão caro aos cristãos,  da peregrinação de Moisés até o Monte Sinai, onde recebeu de Deus os dez mandamentos da fé cristã, e, como retardasse o retorno ao povo de Deus, este pediu ao irmão de Moisés, Arão, que lhes desse uma nova divindade para adorar. Este ofereceu o bezerro de ouro: enfim, o novo paradigma do golpe.

O Relator da pantomina golpista, ainda achou tempo em sua longa e confusa peroração, para, do alto do seu inestimável poder, sugerir ao Colégio Cardinalício, a escolha de Flávio Dino para o cargo de Pontífice da Igreja Católica, em honra ao seu saber teológico.

Este espetáculo ao vivo de conversão religiosa, exibido para toda a Nação, incluído os católicos e os padres e bispos do Brasil, correspondeu a uma disjuntiva que crentes e descrentes devem reconhecer. Flávio Dino tornou-se um fervoroso cristão, propagador dos ensinamentos de Cristo neste conturbado ambiente político do Brasil, ou revelou-se um cínico provocador, cuja intenção implícita é debochar de todos que consideram a palavra e a revelação de Deus, um patrimônio da fé, ou se preferirem um bem do corpo místico da própria Igreja de Cristo.

País cristão por excelência, desde os seus primórdios, a sociedade brasileira não pode, como disse Abraham Lincolm, com a veemência de sempre: “pecar pelo silêncio, quando deveria protestar, transformando homens em covardes”, a menos que os brasileiros prefiram, diante da  disjuntiva, procederem como Pedro, que negou Cristo ou Judas, que o traiu.

Sempre ouvir dizer, embora a reforma protestante do século XVI tenha desmentido temporariamente esta verdade, segundo a qual a palavra Deus não era propriedade de ninguém. Porém de uns tempos para cá, ficou claro que não é admitido a usar em vão o que está revelado por Deus.

Falo essas coisas prá dizer que falo como cristão, respeito os mandamentos cristãos, fui educado na  cultura cristã e a reproduzo na medida do possível, amo  a minha língua e a minha pátria, cultivo minha  família, portanto, sou um cristão, considero que as palavras de Flávio Dino não passam de uma  retórica falsa e mentirosa, um deboche, uma falsidade, como aliás, tudo que está à  sua  volta, inclusive creio, os  elogios dos  advogados à  comédia bufa a  que estamos submetidos, lembrando a sábia advertência de Thomas Sowell: “a liberdade custou muito sangue e muita  agonia para hoje  ser  entregue sob o preço barato da retórica”.

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