Uma imagem corre a internet neste começo de “novo” ano, quando, no litoral de São Paulo, uma motorista, segundo informações da companhia de trânsito, tenta atropelar um homem de camisa amarela. Ela tenta mais de uma vez, ao que tem também o seu para-brisas atingido por uma pedra arremessada pelo mesmo homem. As imagens são chocantes, que nos leva, sem qualquer sombra de dúvidas a acreditar que uma sociedade doente é toda aquela onde individualmente as pessoas assumem a violência como instrumento de resolução de conflitos. Seja ela de forma verbal e ou física, presencialmente ou pela internet. Viver em uma sociedade doente significa esquecer de si e dos seus propósitos de civilidade e mergulhar na onda, na corrente, no contágio dos maus exemplos dados por milhares o tempo todo por todos os lados. O fato é que as escolhas que fazemos nas reações que temos sempre serão o que sou e como atuo no mundo, ainda que esteja contaminado por uma onde de ódio, onde o contraditório não pode mais ser dito, pois se corre literalmente o risco de se perder a vida. As pessoas estão querendo desaguar seus recalques, frustrações sobre quem não pertence a sua corrente de pensamento.
Vemos em verdade, por todos os lados, uma espécie de discurso social autorizando que a forma de tratar os conflitos, as divergências, não é mais pela palavra, mas pela violência, pela eliminação do outros, de forma metafórica ou mesmo, em muitas situações, de forma real, já que reputações são assassinadas frequentemente, pelas mentiras divulgadas a partir de simples WhatsApp de grupo familiar, perpassando, indo para todos os lados. Espera-se, em foco, que a atitude de um homem diante de uma situação de conflito seja recorrer a meios violentos. Não que as mulheres não estejam nesse contexto, claro que estão, mas a masculinidade é transmitida em nossa cultura como antítese da vulnerabilidade. É pretensamente forte assim: violenta, desafiadora, destemida. A formação, infelizmente, da masculinidade da sociedade brasileira é associada à virilidade bélica, afirma a psicanalista Amanda Mont’Alvão. O homem brasileiro é alfa macho, demarcador de território, o super pode tudo. Muito triste, quando vemos essas posições reforçadas em discursos, atitudes de formadores de opinião, mesmo aqueles que o são para grupos pequenos, no WhatsApp. Pois é, mas quem tentou mais de uma vez lançar o carro sobre um homem foi uma mulher, a questão está ficando realmente muito séria.