Humanista de essência filosófica, o papa Francisco foi chamado de comunista, naturalmente porque as pessoas, em geral, não leem e não sabem conceituar escolas, posicionamentos filosóficos, teológicos ou mesmo políticos ideológicos. O fato é que Francisco, durante seu pontificado, enfatizou a importância de uma Igreja voltada para os pobres e excluídos, promovendo ações de caridade e inclusão social. Não sou católico, mas também sou humanista, no alcance das minhas possibilidades, e, sem dúvida, o Papa Francisco é uma referência e inspiração para todos que buscam entender a essência verdadeira do cristianismo. Não esse arremedo ora bizarro, outra ridícula que estamos vendo por aí. Francisco, como último ato de sua vida, ainda que já morto, fez a escolha por uma despedida que incluísse a participação dos mais necessitados, em reforçar essa mensagem de solidariedade e compaixão. Um grupo de cerca de 40 imigrantes, prisioneiros, pessoas trans e moradores de rua, carregando rosas brancas, esperou em silêncio a chegada dos restos mortais do pontífice nos degraus que levam à basílica romana. Alguém disse como grande propriedade: os excluídos da sociedade sempre estiveram no centro do pontificado do papa Francisco e foram os últimos a se despedir dele no que a partir de hoje será seu local de descanso final, a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.
Os excluídos das posições de destaque, envergadas pelos poderosos da Terra, não formaram a verdadeira guarda de honra ao pontífice, mas sim os que ocuparam um lugar de destaque no coração de Francisco. Ou seja, até depois da morte o Papa se lembrou deles.
Durante a ditadura militar argentina (1976-1983), Jorge Mario Bergoglio, então líder dos jesuítas no país, desempenhou um papel complexo e arriscado – e salvou vidas. Ele utilizou sua posição para proteger perseguidos políticos, oferecendo abrigo no Colégio Máximo de San Miguel, onde muitos encontraram refúgio seguro. Além disso, claro, Bergoglio pessoalmente transportava pessoas em risco, escondendo-as em seu carro para atravessar postos de controle militar, para garantir sua segurança, fugindo assim das forças da repressão aos que se opunham ao regime militar. Em um discurso memorável na favela da Varginha, localizada no conjunto de favelas de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, ele criticou duramente as desigualdades sociais, exaltando a luta por justiça social, reafirmando seu compromisso com os mais pobres e marginalizados. Que o próximo Papa venha sob os mesmos auspícios.