Na última quinta-feira (10), houve grande movimentação e protesto do povo de Santo, em função do anúncio das obras de requalificação e mudança de nome de uma das dunas da Lagoa do Abaeté. Já há, inclusive, placas oficiais que constavam o nome novo atribuído às dunas que ainda não foi aprovado – Monte Santo, o que causou muita indignação nos adeptos do Candomblé. O projeto, de autoria do vereador Isnard Araújo, 2º vice-presidente da Câmara, diz que o parque do Abaeté é um local frequentado por evangélicos e grupos neopentecostais e que a mudança seria uma forma de "homenagear cada pessoa que professa sua fé e realiza seus cultos no local". O fato é que a área além de ser de preservação ambiental é local de rituais de religiões de matrizes africanas, considerado sagrado. O prefeito chamou de fake a informação de mudança de nome.
O fato é que, efetivamente, a intenção é de se tornar um ponto de convergência evangélico, desconsiderando o histórico de toda a área em cultos candomblecistas. Não se trata, aqui, naturalmente, de ser contra ou a favor desta ou daquela religião, mas de se registrar uma espécie de atropelo ao que já está estabelecido no Abaeté, além, naturalmente, de um lugar de conhecimento nacional por sua aura mística africana. Tão verdadeiro o intuito de agrado aos evangélicos, que circula um vídeo do apóstolo Roque Soares, onde afirma e agradece: “Reforço também que todos nós juntos cuidaremos desse patrimônio público que o povo evangélico está recebendo do nosso prefeito Bruno Reis e de sua equipe”.
O ex-prefeito ACM Neto trouxe à baila no seu discurso que durante sua gestão toda atenção foi dada às comunidades ligadas ao candomblé e a umbanda, lembrando a criação então da avenida Mãe Stella de Oxóssi e na revitalização da Pedra de Xangô, mas alguma destas teve o objetivo de apagar expressão de alguma religião? O fato é que toda a região do Abaeté é um patrimônio cultural e histórico de Salvador, com ressonância na ancestralidade religiosa do seu povo. Tanto assim, que se perguntarmos a qualquer soteropolitano a que associa o Abaeté, não há dúvidas – Candomblé.
Assim, o que ressai no evento da última quinta foi o veemente protesto do povo de Santo, tendo na ativista e comprometida com os valores da ancestralidade do nosso povo, a yalorixá Jaciara Ribeiro, do Axé Abassá de Ogum. Incomodado com o protesto, o prefeito Bruno Reis falou que por trás da manifestação dos adeptos do candomblé e religiões de matrizes africanas havia interesses políticos. Data vênia, e o que representou no ato da assinatura da autorização das obras com presença maciça de representantes evangélicos da Câmara dos Vereadores de Salvador?