Polarizando ou mostrando a cara?

Ás

Polarizando ou mostrando a cara?

Lemos por todos os lados que o Brasil está polarizado, estabeleceu-se uma espécie de maniqueísmo brasileiro, onde eu estou de um lado e se você pensa diferente está no outro. Lamentável. Todavia, eu me pergunto se de fato houve uma polarização ou simplesmente posicionamentos que se tornaram claros, mas sempre estiveram ali no subterrâneo desta dissimulação do tal pacifismo brasileiro. Honestamente? Não acredito “que a ocasião faz o ladrão”, como se propaga. Acredito que a ocasião revela o ladrão, ressignifico o dizer. Penso que o brasileiro, de um modo geral, se assumiu em suas concepções e conceitos de sociedade, considerando tudo que a ela está vinculada.  

Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda coloca em seu capítulo 5 a cordialidade, como traço marcante do brasileiro. Esse é o capítulo mais questionado, comentado do livro, pelas questões óbvias em si mesmas. Nessa discussão há quem diga que o autor usou a palavra “cordial” não no sentido de cortês, mas no seu aspecto etimológico, ou seja: cordis, em latim, significa “coração”. Por isso, o cordial seria o ser humano que se deixava levar pela emoção, age com o coração. Outros, no entanto, afirmam que houve ironia de Buarque de Holanda, pois de educado e cortês o brasileiro não tem nada. Generalizar, de fato, não é o caminho, mas que realmente está havendo uma exposição maior de lixos emocionais, talvez. Agressões, xingamentos estão na ordem do dia, e sem cerimônias. Não se trata, entendo, de afirmar que as redes sociais, por exemplo, geram uma espécie de nociva espontaneidade, penso que não apenas isto. Apreendo que as pessoas ficaram mais à vontade para serem o que elas são, e as redes sociais deram uma espécie de aval, de luz verde para elas se manifestarem, se deixarem fluir, haja vista que não estão vendo as reações, os gestuais dos interlocutores, em outra situação, dariam uma espécie de freio, de conveniência ao discurso, à fala. 

Curiosamente, no entanto, vemos que os discursos de moralidade não ruíram, gerando um paradoxo estranho: são cristãos, mas pratico a homofobia, a intolerância religiosa... mas são cristãos.. Algumas atitudes pareciam incompatíveis com a roupagem que o brasileiro ostentava. Houve um rompimento de dimensões éticas, em um processo que estabelece que os meus sentimentos serão benditos, juntamente com os que estão comigo e os que não estão terão o sentir malditos. Vemos para aonde estamos caminhando como sociedade civilizada. 

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