O ser humano está em constante busca, ainda que inconscientemente, de se aliviar de seus medos e angústias. Nessa direção, então, há uma necessidade quase que existencial de encontrar respostas e culpados para tudo. O outro é o culpado, a nossa arrogância não nos permite sequer dividir culpas, mas eleger os responsáveis pelas questões que passamos.
Foi nesse contexto de se ter culpados para tudo que a funcionária pública, Raissa Azulay, de 37 anos, moradora de São Luís, no Maranhão, se viu responsável, acusavam muitos, por levar a covid-19 para a própria cidade. Ela relata a triste experiência que, além da angústia natural do processo, da contaminação, teve que ainda enfrentar em suas redes sociais ataques por ter se infectado. Chamada de irresponsável, os agressores a escolheram como alvo para responsabilizar pela doença na cidade. Ela foi o segundo caso confirmado no estado.
A professora Maria de Fátima José Silva, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) bem pontua que, o ser humano sente uma necessidade de criar inimigos visíveis e ou invisíveis para enfrentar uma situação, como se houvesse um anseio de materializar um alvo, no caso do novo coronavírus, um responsável onde pudesse extravasar os medos, angústias e incertezas.
Em momentos de dor e medo é natural que a nossa mente busque qualquer fato que justifique o momento, o sofrimento, na tentativa de amenizá-lo, de ter nas “explicações” uma forma de resignação. Nesse momento, surgem os oportunistas de plantão por todos os lados a falarem de castigo divino, carma e tantas tonteiras que os mais sensíveis começam a se perder nos medos, buscando cada vez mais informações, posições que possam lhes dar mais conforto, mas que, na verdade, só aumentam as incertezas e medos.
É um grande equívoco viver como se estivesse o tempo todo querendo encontrar, seja no que for, culpados, como se isto fosse um anestésico para a própria dor. Essa atitude só tira do foco da situação, no caso deste momento de covid-19, é ver o que lhe cabe fazer, na manutenção do foco para melhor atravessar este momento. Informe-se no necessário, mas não se alimente de notícias angustiantes o tempo todo, elas só vão aumentar a sua ansiedade. Busque sempre sentido útil para a sua vida. Esse é o renascimento da Páscoa, em minha visão.