O Brasil tem visto nos últimos dias uma avalanche de matérias em todos os veículos de notícias sobre o coronavírus. Tudo necessário, principalmente para não gerar pânico, ainda que, sob este aspecto, não sei se está havendo resultado. Ainda ontem, precisei entrar em uma farmácia para comprar um antialérgico e conversei informalmente com uma atendente, depois de ter visto o desespero de um casal porque não tinha encontrado álcool em gel. Ao que a moça me disse: - O senhor não tem noção, estamos precisando fazer lista de espera com telefone (pensei comigo: alguém acha que realmente vai funcionar isto?). Em tempo que a moça me mostrou as prateleiras cheias de vitaminas, suplementos e diversas pessoas fazendo as suas “escolhas”. Isso sem falar em vídeos de médicos, prestem atenção: de médicos!!! Divulgando soro para imunidade contra o coronavírus, ouvi e vi de uma. Precisa algum especialista bater de frente com estes aproveitadores do medo, oportunistas, gananciosos de plantão, manipuladores da ignorância de muitos.
Não há dúvidas de que as necessidades prementes no combate ao coronavírus precisam ser divulgadas, sem pânico. Certamente, o mundo sempre esteve visitado por epidemias e pandemias, mas o sistema de vinculação instantânea da informação tem feito as últimas ganharem contornos de maior inquietação e medo. Tem, no entanto, me chamado a atenção é que as recomendações dos especialistas são para evitar contatos físicos, buscando afastamento em média 1,50 m do outro; aos idosos não saírem de casa; cerca de 80% vão desenvolver, se contraído o vírus, a sua forma mais leve, tratada com medicações de suporte, as mesmas usadas para as gripes sazonais...tudo bem, farei isto, se preciso. Você, caro leitor, também tem condição de fazer, mas... e os moradores das comunidades? E as orientações para eles, os que moram em barracos, invasões? Nós da Cidade da Luz, instituição que fundei e dirijo há 42 anos, atendemos a pessoas que moram em espaços, por exemplo de 4x4, em divisão com 8 a 10 pessoas. Que orientação a elas? Auto-isolamento para quem estiver com os sintomas. Sim, por enquanto aos que chegaram do estrangeiro ou quem teve contato com essas pessoas...e por aí. Tudo bem passado e repassado. Ok. E as diaristas que precisam ganhar o seu dinheiro, para sustentar seus inúmeros filhos e trabalham com estas pessoas?!
Até agora os contaminados são pessoas de classe média, em sua maioria, ou mesmo de classes altas que viajaram, repito, ou estavam em festas...mas quando chegar nas comunidades pobres, sem esclarecimento...e aí? E vai chegar. Não se trata de pânico, mas essa gente trabalhadora, que vive do que tece, pega transporte lotado, onde a distância é a do bafo no pescoço, da respiração em cima do rosto... e não podem deixar de trabalhar porque vão passar fome. E então? Qual a orientação a elas? Qual o apoio a elas? E as tais medicações de suporte para os que não precisam buscar o atendimento de emergência, porque não guardam problemas respiratórios graves? É possível que haja alguma estratégia do governo para essa camada da nossa população, mas ainda não estamos sabendo.