Desde o princípio da humanidade, existem questionamentos de onde viemos e o que estamos fazendo aqui. Outra grande dúvida é se existe vida após a morte: “para onde iremos e o que será de nossas almas?” Estudiosos tentam entender de como o planeta terra surgiu, onde estudos apontam uma época que existiram animais jurássicos e homens pré-históricos, e outros, afirmam que a terra surgiu a partir de uma grande explosão há 4,6 bilhões de anos. E a partir dessas histórias o homem foi evoluindo, descobertas foram feitas e as contradições entre ciência e religião foram acontecendo.
Debruçando-me no campo religioso e no ponto de vista da crença monoteísta, acredita-se que Deus, um ser absoluto, onipotente, onisciente e onipresente, criou o céu, a terra e todos os seres vivos, onde a partir da sua própria imagem e semelhança criou o homem e a mulher. Este argumento é fundamentado na interpretação literal do maior best-seller de todos os tempos, a Bíblia, onde em Gênesis 1, do Antigo Testamento relata tal fato. Esta narrativa, escrita por homens comuns é um compilado de livros formado pelo Antigo e Novo Testamento, começando a partir da criação do mundo e do homem, até os ensinamentos de Jesus Cristo, que seria um consagrado de Deus, e tinha como missão levar sua palavra, onde a paz e o amor seriam os princípios fundamentais de sua vontade. Mas por professar essa fé, Jesus foi açoitado até a morte, se tornando mártir até os dias atuais.
O conceito de religião permeia pela devoção a tudo aquilo que é considerado sagrado. A religião é baseada na fé. E a fé, é um sentimento individual. A opinião naquilo em que se acredita. No entanto, muitas vezes essa fé torna algumas pessoas inábeis em reconhecer e respeitar as diferenças de outrem. A evolução humana não se dá somente com a ciência e a tecnologia. Esta evolução precisa acontecer no interior de cada um. Compreendendo e praticando o real conceito da palavra Respeito que conseqüentemente virá carregada de outros substantivos como empatia, igualdade, união, fraternidade etc, para que assim sejamos dignos de sermos a imagem e semelhança de um ser que tem como princípio fundamental a paz e o amor.
Apoiado nisto, em tempos antigos as pessoas eram obrigadas a seguirem gostos e costumes contra sua vontade. O Santo Ofício visto muito na idade média, quando mulheres eram perseguidas politicamente por fazerem parte de “seitas pagãs” e matriarcais, das quais eram tidas como satânicas pela igreja católica, foram perseguidas pela inquisição, julgadas por bruxaria e condenadas a morrerem queimadas em fogueiras em plena praça pública. Já na época escravagista, os negros eram obrigados a cultuarem os santos da igreja católica, onde eram açoitados caso desobedecessem, e por este motivo tiveram que unir as doutrinas para manter sua fé.
Hoje, em tempos atuais ainda sofremos represálias. Não mais como na idade média, entretanto, o sentimento de sermos queimados vivos é constante, haja vista que em Salvador, Cidade mais preta do mundo fora do continente africano, onde a cultura do Candomblé é bastante forte, tivemos alguns episódios bem recentes de racismo religioso, onde bustos e estátuas representadas por mulheres negras e de Candomblé foram queimadas. O direito constitucional disposto no artigo 5° não é obedecido, maculando os princípios éticos e morais da lei. E o que deveria fazer parte da evolução humana, a partir dos princípios de Deus que bem lá atrás já se tentava plantar, o sentimento de hoje é de derrota e retrocesso.
Com base neste recuo, uma lei de 10 de novembro de 2011 foi criada para que houvesse uma reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Então, em 20 de novembro celebramos o dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Mas ter consciência é um ato pouco usual, pois se fulano tivesse consciência de não jogar lixo nas ruas, teríamos uma Cidade mais limpa e bonita. Se sicrano tivesse a consciência de que o homossexual é tão gente quanto ele, não o espancava até a morte. Se beltrano tivesse consciência de que a preservação da natureza nos da qualidade de vida, ele não poluía os rios e nem desmatava. Respeitar os direitos de outrem é dever e obrigação de cada um. Mas este manifesto de cunho nacional mostra a dimensão da falta de respeito que uma minoria ainda tem pelos negros, basta ver que recentemente tivemos uma lei sancionada em 05 de janeiro de 2023, onde se institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes Africanas e Nações do Candomblé a comemorar-se em 21 de março e o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa celebrado em 21 de janeiro. Tudo isso para endossar um artigo que a Carta Magna já assegura desde 1988.
Essas linhas fazem parte de mais um manifesto e pedido de socorro. A intolerância religiosa imiscuída do racismo é uma constante luta do povo negro, e mais especificamente do povo de Axé. Lembro-me de um episódio no ano de 2014, onde uma dessas grandes igrejas, de forma vil postou nas redes sociais vídeos para depreciar o Candomblé. E quando achávamos que seriamos amparados pela lei, um magistrado indeferiu a retirada dos vídeos da rede e afirmou: “(...) As manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões, muito menos os vídeos refletem um sistema de crença. São de mau gosto, mas são manifestações de livre expressão de opinião”. E pelo fato de não termos um “texto-base”, aos olhos do magistrado, nós éramos qualquer coisa, menos religião.
Agora eu lhes pergunto: Jesus morreu por quê? A quem diga que ele morreu pelos nossos pecados. Mas esta narrativa é fundamentada no texto-base. Texto este, que é interpretado a partir das conveniências de cada um, e ainda, não é seguido como deveria ser. Portanto, com base em tudo isso que vivemos hoje em dia, eu compreendo que Jesus foi morto por interesses pessoais. O texto-base, que é tido como sagrado é utilizado de forma individual, se inclinado em benefício próprio, enriquecendo algumas dezenas de mentores à custa da fé alheia, e pior, do fanatismo desenfreado, tornando essas pessoas agressivas e intolerantes, que tentam a todo custo o extermínio religioso e cultural africano, quebrando os nossos espaços sagrados e tocando fogo em nossas memórias. Pois este apagamento objetiva fortalecer tais interesses. Contudo, seguimos mais resistentes, firmes e fortes. Afirmando que objetivo de Deus e a missão de Jesus eram outros, mesmo sendo pessoas de Axé. E por este motivo nós de Candomblé, continuaremos a rogar a Olorun (o Deus absoluto), aos Orixás, Inkises, Voduns, Caboclos e Ancestrais que também são consagrados de Deus, por dias melhores, e que o propósito do Criador em fim seja alcançado.
Makota Valdina (in memoriam) um dia disse: “Eu não quero que me tolerem. Eu quero que me respeitem...” Portanto, este legado fica pra posteridade, para que eles entendam que: RESPEITO É BOM, E EU GOSTO!