Tia Pinguinho: Oxun fez por mim

Ás

Tia Pinguinho: Oxun fez por mim

Eutrópia Maria de Castro, mais conhecida por tia Pinguinho, era filha de Elvira Maria da Conceição e pai não declarado. Nasceu em 30 de outubro de 1909 na Cidade de Salvador. Iniciou-se pelas mãos de Eugênia Anna dos Santos – Mãe Anninha, no auge dos seus 27 anos de idade, em 1936. Além de tia Pinguinho, mais cinco pessoas compuseram este barco de Iaôs – barco é  a expressão dada à quantidade de pessoas iniciadas em uma só leva: José de Ogun; Cantulina de Ayrá; Alcendina de Oxun; Noêmia de Oxoguian – esta  já rememorada aqui [Tia Noêmia: o guerreiro veio novamente - Farol da Bahia] e Petronilha de Oxalá foram seus irmãos de santo. Seu orukó – nome de santo – era Oxun Fumixê: Aquela que faz por mim. Ondina Valéria Pimentel – Mãezinha foi a primeira Iyakekerê do Opô Afonjá. Quando ela ascendeu ao cargo de Iyalorixá, o cargo de Iyakekerê ficou vago e Tia Pinguinho ocupou com maestria. Após a passagem de Mãezinha, quando tia Stella foi escolhida pra ser a Iyalorixá do Opô Afonjá, tia Pinguinho – com toda a bagagem de conhecimento que tinha – serviu de farol para a nova Iyalorixá que acabara de chegar!


Foto: Arquivo Pessoal

Tenho muitas lembranças de tia Pinguinho cantando e ensinando a forma correta de falar as palavras em Iorubá: as rememorações são todas muito boas. Ela era rigorosa – bem Caxias mesmo – na pronúncia das cantigas. Se cantasse errado, ela parava para corrigir. O Ioruba é uma língua tonal: muitas vezes uma única palavra tem vários significados, a partir da sua acentuação. Então, ela dizia que tínhamos que cantar direito, pois a gente não sabia quem estava nos ouvindo. Segundo ela, este aprendizado foi passado pela sua Iyalorixá. Tia Pinguinho tinha um jeito aparentemente severo, mas era só aquele jeitão dela. Ela era viúva; teve três filhos; vários netos e bisnetos. Um de seus bisnetos, nascido um ano antes de sua partida para o Ọrun, conta que seu nome foi escolhido por ela, que dizia que ele era o seu interior, ou seja, o seu ego – passando a chamarem aquele bebê de Egon Henrique. Ele destaca que acrescentaram o “n”, porque o cartório não aceitou um nome com três letras somente. Mas ele, ainda assim, continuou sendo o seu interior! 

Aos vinte e nove dias do mês de janeiro de 1990, tia Pinguinho partiu para o Orun, após complicações do diabetes. O seu legado segueInesquecível: seus ensinamentos perduram até os dias de hoje, fazendo jus ao seu nome, quando – com muito cuidado – ela nos ensinou a arte do cantar para os Orixás. E assim fazemos até o presente.

Salve tia Pinguinho, Ọṣun Funmiṣe: aquela que também fez por mim!

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:[email protected]

Faça seu comentário