Rememorar aqueles que partiram para eternidade é não deixar que a morte se torne o fim de uma história. São muitas as boas lembranças que tenho da minha Inesquecível de hoje. Raimunda Nonata da Silva, carinhosamente chamada de tia Mundinha de Oxalá. Filha de Maria Valentina Santiago nasceu em Salvador aos vinte e sete dias do mês de março de 1916. Tia Mundinha era lavadeira - lavava de ganho, onde naquela época ia buscar água na famosa Lagoa da Vovó, situada aqui no bairro de São Gonçalo. Casou-se com seu Idalício Vitor Costa, onde teve nove filhos. Destes, três se destacaram no Candomblé: Agnaldo: mais conhecido por Guinho ou China, foi um grande tocador de atabaque; um exímio capoeirista e um excelente serralheiro, onde confeccionava ferramentas de Orixás. Hildário, o afamado Darinho, este foi Alabê do Opô Afonjá – ambos em memória. Darinho substituiu o grande Nezinho – este já rememorado aqui: Nezinho: o chamador de Orixá - Farol da Bahia. E por fim, Vivaldina, mas conhecida como Viva de Nanã. Esta é filha de santo de pai Rubelino do Opô Aganjú, mas reside aqui no Opô Afonjá. Viva segue conosco, firme e forte!
Tia Raimunda se iniciou pelas mãos de Maria Bibiana do Espirito Santo – Mãe Senhora, no famoso barco das 16. Atendia pelo nome de Iwin Funṣọ (Funxó) - aquela que se veste de branco. Durante muitos anos foi à responsável em carregar o estandarte de Oxalá no ritual do Olorogun – veja aqui: A Quaresma e o Olorogun - Farol da Bahia. Vestida de branco, tia Raimunda empunhava o estandarte com muita imponência em uma linda procissão que até os dias de hoje segue viva dentro do Ilê Axé Opô Afonjá, passando na frente da casa de todos os Orixás, onde em reverência a cada um, a semiótica do ritual revela o poder que Oxalá tem em uma guerra, mesmo sendo um velho ancião.
Lembro-me de tia Mundinha alimentando seus patos de criação – era cada patão danado! A roça vivia cheia de bichos desse tipo. Galos, galinhas, patos e pintinhos. Tia Mundinha morava do lado do barracão de festas. Nesta parte da roça o chão era coberto por relva bem verdinha, onde ela colocava as roupas pra quarar. A roça ficava toda perfumada quando tia Mundinha lavava roupa. Lembro dela reclamando com a gente, quando passávamos correndo: “Ô menino... Olhe minha roupa!” Era um tempo bom!
Tia Raimunda partiu para o Orun em 19 de janeiro de 2002, deixando muita saudade. Hoje, seu legado permanece vivo, onde sua filha Vivaldina e seus netos seguem aquecendo a tradição da família. Aquela que se veste de branco segue viva em sua essência.
Êpa Babá... Salve Iwin Funṣọ!