Tia Vanju: silenciosa feito o vento

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Tia Vanju: silenciosa feito o vento

A minha Inesquecível de hoje deixou muita saudade e lembranças que estão guardadas em meu coração. Evangelina dos Santos Conceição, carinhosamente chamada de Vanju, era filha de Almerinda Daniel de Paula e Fernando Vitoriano dos Santos. Nasceu em 25 de março de 1939, na Ilha de Itaparica. Foi iniciada para o Orixá Iansã, pelas mãos de Maria Bibiana do Espírito Santo – Mãe Senhora de Oxun. Atendia pelo nome de Ọya Nikẹ -e era ligeira, porém silenciosa feito o vento. Já no Ilê Agboulá, Terreiro de culto aos Ancestrais – os Egungun, tia Vanju atendia pelo nome de OtunIyalasê.

 

Nas épocas de festa no Ilê Agboulá, e muitas vezes no Ilê Tuntum, eu ligava pra tia Vanju pra saber se ela podia me receber em sua casa, pois as festas de Egun viram a noite e, quando o dia amanhece, o corpo só pede um bom banho e um local pra deitar – até uma esteira servia [risos]. Prontamente ela dizia: “Ôh meu filho... Você não precisa de convite. Você aqui é bem chegado. Que bobagem é essa?!” Ela era de uma delicadeza sem igual. Minha mãe ficava despreocupada quando dizia que estava com tia Vanju. Quando eu chegava, tinha uma cama cheirosa com lençóis limpos; toalha; sabonete e um cafezinho pra esquentar o espírito.

 

Meu parceiro de festas era seu filho, Ednelson, mais conhecido por Nenéu. Era ele quem me levava pras festas. E assim crescemos como grandes irmãos de consideração. Tia Vanju era uma cozinheira de mãe cheia. Muitas vezes quando eu e Nenéu descíamos da festa, íamos tomar um banho de mar pra revitalizar. Sempre tinha alguém vendendo peixe fresquinho – eu gostava de comprar na mão de Valdo – in memoriam. Valdo foi um irmão que partiu cedo, deixando um enorme legado como Ojé. Depois do banho de mar, tomávamos café e tirávamos um cochilo. Acordava com a casa toda perfumada a dendê. Era tia Vanju fazendo aquela moqueca que só ela e minha filha Elza sabiam fazer– com bastante pimenta. Elza já foi rememorada aqui: Obá Kayodê: O Rei que trouxe alegria - Farol da Bahia.

 

Tia Vanju era um doce de pessoa. Ela me tratava como um de seus filhos. Era de um carinho que,quando lembro, os olhos enchem de água. Das vezes que ia à Ilha de bate e volta, era inevitável passar lá só pra dar um beijo nela. Sabe aquela mãezona que – quando vê o filho que já estava há tempos sem ver e, quando o encontra, faz de tudo pra ele ficar mais um pouco?! Assim era tia Vanjucomigo. Eu só ia pra cumprimentá-la e seguir viagem, mas ela sempre dava um jeitinho de me segurar. Ela me prendia pela barriga [risos]. Sempre tinha uma comida fresquinha no fogão. Bom de boca que sou, ficava.

 

Eu a encontrava sempre na casa de tio/pai Flaviano – no Ilê Axé Obanã, em Areia Branca / Lauro de Freitas. Minha mãe ia muito às festas de lá, e sempre me levava. E, para minha felicidade, tia Vanju estava lá: era uma alegria só! O cuidado era o mesmo. Ela me paparicava muito. Quanta saudade eu tenho dessa Mãe Preta. Sua passagem aqui no Aiyê – Terra findou aqui no Opô Afonjá. Ela ainda passou uma temporada por aqui, na casa de minha filha Elza, no Opô Afonjá quando, em 25 de junho de 2005, tia Vanju partiu para o Orun deixando muita saudade. As minhas idas pra Ilha de Itaparica nunca mais foram as mesmas. Talvez seja por isso que tenho ido tão pouco. Tia Vanju permanece viva em mim e, ainda que ligeira e silenciosa, consigo sentir a brisa de Oyá, onde é possível perceber que sua essência ainda vive.

 

Salve tia Vanju de Oyá. 

 

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