Uma agulha no palheiro

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Uma agulha no palheiro

O velho adágio popular aplica-se à memória do Imperador D. Pedro II. Procurar uma lembrança, uma palavra sequer de gratidão, um gesto de grandeza humana ou moral em reconhecimento do homem que por 49 anos governou o Brasil, é o mesmo que procurar uma agulha no palheiro. Um silêncio mortuário paira sobre a obra e as virtudes do ilustre representante da Casa de Bragança. 
Aos 14 anos de idade D. Pedro II teve a sua maioridade antecipada, a fim de dar conta dos conflitos políticos que contrapunham liberais e conservadores durante a vigência das Regências e iniciar um longo período de estabilidade política e progresso material.
Passou a governar o Brasil com espírito liberal, permitindo o florescimento das instituições, a ampla liberdade de imprensa e respeitando a correlação de forças políticas, a fim de que conservadores e liberais se revezassem no poder.
As guerras que travou, numa época de instabilidade continental, ainda permeada pela recente consolidação dos processos de independência política, apesar de sangrentas, asseguraram ao Brasil um papel de liderança necessária ao único Império no espaço geopolítico do continente. A guerra do Paraguai, por exemplo, vencida pelo Brasil após perder mais de 50 mil combatentes, e ter o próprio Imperador entre os combatentes, impediu o expansionismo do  ditador Solano Lopez. 
A economia cafeeira expandia-se no Vale do Paraíba, no Oeste Paulista e na Zona da Mata, convertendo o país no maior exportador deste produto agrícola, cuja produção dependia da mão de obra escrava e fazia a riqueza de uma opulenta aristocracia. 
O Imperador era um homem de visão. Culto, poliglota e exímio conhecedor das conquistas da ciência, trouxe para o pais que governava, as principais inovações do mundo à época: as primeiras ferrovias, a iluminação pública a gás, a indústria naval, o encanamento de água e esgoto e o telefone!
As cidades foram renovadas e o país ingressa na era moderna quando se erguem hospitais, grandes avenidas, penitenciárias, elevadores etc... Grandes portos foram construídos como o do Rio de Janeiro ou o de Santos, a fim de escoar a produção agrícola da nação emergente.
Para D. Pedro II a liberdade de expressão era o fundamento das liberdades, base do Iluminismo que colocava as nações na plenitude civilizacional, no caminho da paz eterna kantiana e do progresso.
A cultura brasileira alcançou os mais elevados padrões de  refinamento, seja na música de Carlos Gomes, o compositor de O Guarani, que pelas mãos de D. Pedro II foi estudar na Itália e encantou a Europa com suas  criações geniais. Machado de Assis, o mulato que se inscreveu na literatura mundial, rivalizando com Dostoiévski ou Balzac¿ Nessa lista não pode  faltar Joaquim Nabuco, diplomata, advogado, católico e abolicionista. Sua palavra em favor da libertação dos negros era um raio em céu azul, fulminante e esclarecida.
Possuir escravos era um direito de todos, inclusive dos próprios escravos, principalmente os alforriados. O Imperador, contudo não os tinha. Sua convicção era que o Brasil alcançaria sua maturidade econômica e social, quando instalasse o trabalho livre. Foi perseguindo este objetivo que D. Pedro II construiu a estratégia de abolir gradualmente esta inqualificável instituição.
E o fez com a paciência e tolerância dos grandes estadistas. Convicto dos seus inestimáveis benefícios, preservando a paz social e a estabilidade política. A Lei Aurea, assinada pela Princesa Regente, D. Isabel,  e votada no Parlamento em 24 horas, pretendia ir mais longe e detalhar os passos necessários para integrar na sociedade que acabara de abolir a escravidão, os mecanismos de uma sociedade de homens livres.
No entanto, os coveiros da monarquia constitucional do Brasil, defenestraram o Imperador do poder, através de uma santa aliança que reunia os militares descontentes com seus soldos, considerados reduzidos após a vitória no Paraguai  e as ideias positivistas que professavam, a oligarquia cafeeira de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, cujos filhos infestavam com uma maioria insólita o Parlamento conservador da época, os  católicos inconformados com a desobediência do Imperador em ceder ao mandonismo papal e a própria Inglaterra inconformada com a decisão soberana de D. Pedro II com o arresto ilegal de navios brasileiros ancorados no porto carioca.
Em resumo esses foram os motivos das elites golpistas para destronar um Imperador cercado de honra, legitimidade e realizações.
O que temos para comemorar o dia 15 de novembro¿ A República Federalista nunca a tivemos. A Democracia essencial à sobrevivência da República encontra-se esfarrapada e violada. O que comemoramos, então¿

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