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Adiamento do Censo escancara importância de pesquisas no Brasil

Manifestações demonstram clamor contra os impactos de 11 anos de defasagem

Ás

Adiamento do Censo escancara importância de pesquisas no Brasil

Foto: Divulgação

Você sabe quantas pessoas existem na sua cidade? e no Brasil? E no contexto da pandemia, sabe quantas pessoas perderam o emprego? É para responder a essas e outras estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza o Censo Demográfico, que reúne os mais variados dados que facilitam, por exemplo, a transferência de recursos e identificam as populações mais vulneráveis no contexto socioeconômico. No entanto, mesmo com a relevância da pesquisa, o Censo, mais uma vez, foi adiado diante da redução de R$ 2 bilhões para R$ 71 milhões, conforme o Orçamento da União deste ano. 

Com o Censo, é possível determinar para quais grupos serão destinados benefícios sociais, quanto de recursos os municípios terão à favor, quais áreas necessitam de investimento em saneamento básico, quais escolas precisam de recursos para melhorias, além de quais públicos são prioridades em serviços assistenciais e até de vacinação.

O levantamento é feito de dez em dez anos e o último foi realizado em 2010. Esse atraso de 11 anos deve provocar uma defasagem de grandes proporções tanto para a população quanto para as três esferas governamentais, que não mais poderão contar com dados reais para o investimento em áreas como saúde, educação, segurança, habitação e programas sociais, como o Bolsa Família e o auxílio emergencial, distribuído para as populações mais vulneráveis diante da crise gerada pela pandemia da covid-19.

No contexto da pandemia, o agravamento da crise social, a falta de políticas públicas de qualidade e as altas taxas de desemprego escancaram a necessidade da realização de pesquisas no Brasil. Recentemente, 56 entidades de representação profissional e planejamento urbanístico divulgaram uma nota em que disseram que os investimentos públicos têm sofrido retração desde 2017. Eles também criticaram a decisão do Governo Federal em reduzir a importância de pesquisas.

"Um país sério e comprometido com a soberania nacional e com o bem-estar da sua população valoriza a ciência, a produção de dados e investe em planejamento para fazer face aos instrumentos de produção de justiça social. O abandono da contagem decenal do Censo significa um golpe mortal em um instrumento que, pelos meios legais, garante à sociedade brasileira o conhecimento de seus reais problemas", cita um trecho da nota.

Ainda neste semana, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio, determinou que o Governo adote medidas para a realização da pesquisa, justificou que a prorrogação da pesquisa fere a Constituição e questionou: “Como combater desigualdades, instituir programas de transferência de renda, construir escolas e hospitais sem prévio conhecimento das necessidades locais?", citou o magistrado em um trecho da decisão.

O posicionamento também não foi diferente dentro da instituição responsável pelo Censo, o IBGE. Em artigo publicado no 'O Globo', em março deste ano, a presidente do IBGE na época, Susana Guerra, e o diretor de Pesquisa e atual presidente, Eduardo Rios Neto, consideram que "a defasagem afeta a qualidade das projeções populacionais para as unidades da Federação e das estimativas da população dos municípios".

Uma outra manifestação partiu de oito ex-presidentes do IBGE que, em carta, declararam que sem o Censo, "o Brasil se junta ao Haiti, Afeganistão, Congo, Líbia e outros estados falidos ou em guerra que estão há mais de 11 anos sem informação estatística adequada para apoiar suas políticas econômicas e sociais".

Diante de todas as manifestações, questionamentos e determinações, quanto custa para os governantes entenderem que não se constrói um país sem embasamento e estatística? A necessidade de se manter os investimentos vem de um clamor para entender a identidade do país. O Brasil sem dados é faminto, sem rosto, sem classe e acima de tudo, sem uma estatística de Democracia.

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