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Ano de 2024 teve chuvas desproporcionais e acima da média, diz relatório

Ano também foi marcado por recorde na temperatura média global, atingindo 1,6°C acima dos níveis pré-industriais

Por FolhaPress
Ás

Ano de 2024 teve chuvas desproporcionais e acima da média, diz relatório

Foto: marcelocaumors/Instagram

O ano de 2024 foi marcado por um recorde na temperatura média global, atingindo 1,6°C acima dos níveis pré-industriais. Agora, cientistas apontam que as chuvas caíram em quantidade acima da média e com distribuição irregular, castigando desproporcionalmente algumas regiões do planeta, como o sul da Ásia e a Austrália.

Segundo um relatório elaborado com dados preliminares da precipitação na Terra no ano passado, o planeta teve 2,9 mm de chuva por dia, em média -um aumento de 0,09 mm por dia em relação ao intervalo dos anos de 1983 a 2023 (2,81 mm). De acordo com os cientistas, o número é um provável recorde.

A análise foi feita com dados do Global Precipitation Climatology Project (projeto de climatologia de precipitação global), um conjunto de dados de chuvas no planeta ativo desde 1979.
Quando é considerada apenas a precipitação sobre as porções de terra, excluindo os oceanos, o aumento foi de 0,1 mm por dia na média global.

O relatório foi publicado em janeiro por cientistas do Centro Interdisciplinar de Ciências do Sistema da Terra, da Universidade de Maryland, nos EUA.

Enquanto partes do oceano Índico, sul da Ásia, oeste do Pacífico e Austrália ficaram mais úmidas do que o normal, a América do Sul esteve mais seca, especialmente a amazônia, que sofreu uma estiagem prolongada.

De acordo com os cientistas, as secas e as chuvas extremas foram reforçadas pelo El Niño, registrado de junho de 2023 a junho de 2024, e pelo aquecimento global.

O El Niño é um fenômeno natural que aquece a superfície do oceano Pacífico, o que desencadeia alterações nos padrões de seca e chuvas e aumento da temperatura média global, entre outros efeitos climáticos.

"Vemos a temperatura do Pacífico aumentar durante o El Niño e diminuir durante o La Niña. Mas, ao fundo, há um aumento gradual da temperatura, que é resultado da mudança climática. Essa variabilidade natural está sendo intensificada pelo aquecimento global", diz José Marengo, climatologista e coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), que não participou do estudo.

"Observamos anos com muita chuva em algumas regiões e, no ano seguinte, o oposto. Os extremos climáticos estão se tornando ainda mais intensos. As áreas chuvosas, especialmente as oceânicas, estão ficando ainda mais chuvosas, enquanto regiões continentais, como o México, parte da amazônia, algumas áreas do sul da África e do Mediterrâneo europeu, estão ficando mais quentes", afirma.

Para Pedro Luiz Cortês, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP (Universidade de São Paulo), os cientistas têm verificado mundialmente um desequilíbrio em relação aos padrões climáticos que existiam até o final do século passado.

"Principalmente a partir da década de 1990, começaram a aparecer alterações nos padrões de chuva e de temperatura, e isso foi se intensificando ao longo das décadas seguintes. Há cerca de 30 anos passamos por uma mudança cada vez mais significativa, sem perspectiva de que isso possa diminuir ou voltar aos padrões que tínhamos até o final do século passado", diz.

Cortês cita o exemplo do que aconteceu no Brasil em 2024 para ilustrar as mudanças no padrão e a distribuição irregular das chuvas, com a seca na amazônia e as inundações no Rio Grande do Sul.

"Esses desequilíbrios estão se tornando cada vez mais intensos. Embora os dados mostrem um aumento na precipitação global, isso não significa que a chuva esteja sendo distribuída de uniformemente -e esse é um ponto fundamental para entender os impactos das mudanças climáticas", diz.

Segundo os cientistas, o dado apresentado no relatório deve servir também para reforçar o alerta de que as cidades não estão adaptadas para a nova realidade.

"Não adianta termos as melhores previsões meteorológicas ou os alertas mais precisos de risco de desastre se as cidades continuam sendo construídas em áreas de risco e a população não tem percepção clara do perigo", diz Marengo, do Cemaden. "Para salvar vidas e propriedades, temos de trabalhar com prevenção", completa.

Cortês, da USP, diz que é preciso mudar a forma como as cidades lidam com desastres climáticos. Segundo ele, hoje há prevalência de políticas reativas.

"Eventos extremos são difíceis de evitar completamente, mas podemos minimizar seus impactos", afirma.

"Um exemplo é aumentar a permeabilidade das cidades. Grandes centros urbanos, como São Paulo, são extremamente impermeáveis devido ao asfalto, ao cimento e ao concreto. Isso faz com que a água da chuva escoe rapidamente para as galerias pluviais, que não foram projetadas para volumes tão intensos", completa Cortês, que sugere medidas como jardins de chuva, corredores verdes e aumento da arborização.

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