Após anunciar demissão, Ford chama trabalhadores de volta para produzir peças de reposição
Sindicatos dizem que multinacional ainda não negociou plano de saída do país
Foto: Reprodução/G1
Nesta segunda-feira (18), a Ford iniciou uma convocação oficial para que os empregados das fábricas retornem ao trabalho para produzir peças de reposição, afirmam sindicatos que representam os metalúrgicos das unidades. Como entidades, no entanto, são contra a volta até que uma multinacional negocie indenizações e um plano de saída do país.
“A Ford está mandando comunicados, mas a adesão está zero, está tudo parado, ninguém está indo (dar expediente). A fábrica precisou alugar um galpão porque na região de Simões Filho (BA) porque não tinha gente para comprar produtos de 90 caminhoneiros aqui em Camaçari”, afirma Julio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari.
De acordo come ele, a multinacional não negociou ainda como será o processo de demissão dos seus empregados nem sentou formalmente com os sindicatos para discutir como rescisões e indenizações.
“Ninguém voltou porque o que a Ford fez foi um tapa na cara, não negociou nada com a gente e pede para a gente retornar ao trabalho? Não dá”, afirma Bonfim.
A empresa mantinha no país uma fábrica de motores e de transmissão em Taubaté (SP) e uma planta montadora em Camaçari (BA), que já interromperam a produção, além de uma unidade da marca Troller em Horizonte (CE), que fecharia no fim do ano.
Dieese: Perda de 118 mil empregos
O presidente do Sindicato Julio Bonfim e o governador da Bahia, Rui Costa (PT) vão a Brasília nesta terça-feira (19) para visitar as embaixadas da Índia, Coreia do Sul e Japão na busca por oportunidades de investimentos para Camaçari, na tentativa de mitigar como demissões na região.
Conforme o estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), as demissões da Ford no país podem significar uma perda potencial de mais de 118.864 mil postos de trabalho, somando empregos diretos, indiretos e induzidos.
A perda de massa salarial no país é estimada pelo Dieese em R$ 2,5 bilhões ao ano, considerando os empregos diretos e indiretos perdidos. A entidade também projeta uma queda de arrecadação de impostos de R $ 3 bilhões anuais.
O Dieese informou ainda que a Ford chegou a empregar 21.800 pessoas em 1980. Em 1990, tinha 17.578 trabalhadores. Nove anos depois, 9.153. Atualmente, segundo a entidade, são 6.171 operários empregados, sendo 4.604 mil na unidade de Camaçari (BA), 830 em Taubaté (SP) e 470 em Horizonte (CE).
A montadora está entre as quatro mais contempladas por créditos do BNDES, segundo a entidade. Entre 2002 e 2018, Ford aceito crédito de R $ 5,5 bilhões do banco estatal.