Atos do 8 de janeiro, tentativa de atentado a bomba e bloqueios em estradas 'não são fatos isolados', diz ex-diretor da Abin
Cunha presta depoimento nesta terça-feira (1°) na CPMI que investiga atos do dia 8
Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha afirmou, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos do 8 de janeiro, que os episódios de violência providos após as eleições de 2022 "não são fatos isolados".
Cunha estava à frente da Abin no dia 8 de janeiro, quando manifestantes invadiram e depredaram a sede dos Três Poderes em Brasília. Nesta terça-feira (1°), ele foi questionado se há alguma relação entre os atos de vândalos em Brasília em 12 de dezembro, a tentativa de um bolsonarista de explodir uma bomba nos arredores aeroporto de Brasília, os bloqueios feitos por caminhoneiro em estradas contra o resultado das urnas e os atos de 8 de janeiro.
"Nós encaminhamos uma série de relatórios, que estão à disposição da CPMI. Esses relatórios – vou falar superficialmente porque estão sob sigilo – obviamente enxergam uma sucessão de fatos, certo? Não são fatos isolados. Esses relatórios foram encaminhados não só à CPMI, mas também foram encaminhados à Polícia Federal, que está conduzindo o inquérito sobre atos extremistas", respondeu o ex-diretor da Abin. A Abin compartilhou com a CPI 11 relatórios de inteligência que descrevem as diversas frentes de organização da invasão dos prédios dos Três Poderes.
Saulo da Cunha foi chamado à CPMI para falar sobre a comunicação feita entre os órgãos de inteligência e as autoridades federais e sobre a presença de integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República nas dependências do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, na hora em que aconteceram os atos de vandalismo.
O ex-diretor da Abin detalhou à relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), as comunicações feitas a partir do monitoramento do número de ônibus que estavam se dirigindo à capital federal.
“O que nós não tínhamos ainda efetivamente era a ‘qualidade’ desses passageiros. Ou seja, se havia ali entre eles, já imiscuído, algum extremista, alguém portando armas, essa informação nós não tínhamos. Mas nós informamos sim, uma atividade não usual na chegada para Brasília”, afirmou Cunha.
“Na tarde do dia 7, os órgãos de segurança do GDF e alguns órgãos do governo federal já tinham, sim, uma ideia de que nós teríamos pelo menos uma manifestação com grande participação de pessoas”, acrescentou.
Mensagens no WhatsApp
Segundo ele, parte das mensagens foi encaminhada diretamente ao então ministro-chefe do GSI, general Gonçalves Dias. O ex-diretor da Abin relatou ainda que, às 8 horas do dia 8, por meio de mensagem no WhatsApp, informou sobre a quantidade de ônibus que estavam chegando à Brasília. O ministro teria avaliado então que “teriam problemas”.
Por volta das 13h30, em uma ligação telefônica, Saulo da Cunha teria alertado o general G. Dias que as sedes dos poderes da República poderiam ser invadidas. “Os alertas condicionam as autoridades pelo menos ao entendimento de que não seria uma manifestação comum. Ela, no mínimo, seria uma manifestação de grande porte. E a partir de um certo momento, nós já temos ali a convicção de que havia a intenção de atos antidemocráticos”, disse o ex-diretor da Abin aos parlamentares da CPMI.
Relatórios
Além dos alertas enviados por WhatsApp tanto ao ministro quanto ao grupo chamado Célula Integrada de Inteligência de Segurança Pública (Cisp), composto por representantes de 48 órgãos públicos, também foram enviados dois relatórios.
A primeira planilha, com a relação desses alertas, teria sido modificada a pedido ex-ministro chefe do GSI para que o nome dele fosse retirado do relatório. A alegação era de que ele não era o destinatário das mensagens.
O ex-diretor Saulo da Cunha confirmou ter produzido uma segunda planilha com a modificação, mas evitou usar a palavra “adulteração”.
O depoimento de Cunha à CPMI continua no plenário 2, da ala Nilo Coelho, no Senado. Há 29 parlamentares inscritos para fazer perguntas ao ex-diretor.