Aumento do IOF afeta crédito e encarece custos para empresas e consumidores, dizem especialistas
Medida visa arrecadar R$ 18,5 bi, mas economistas alertam para impactos na atividade econômica

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O anúncio do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para fins arrecadatórios colocou a Fazenda e as classes política e econômica em lados opostos da mesa. Enquanto o ministro Fernando Haddad diz que a revogação da medida está fora de questão, o movimento no Congresso Nacional para barrar a mudança e a pressão de empresários e investidores só crescem.
A pasta argumenta que o aumento do imposto é imprescindível para que a União consiga cumprir as obrigações orçamentárias, uma vez que é esperada uma arrecadação de R$ 18,5 bilhões com as novas taxas. Por outro lado, o clima é de descontentamento devido ao peso sobre o crédito - em um contexto de desaceleração na economia.
Especialistas consultados pelo Farol da Bahia analisaram as motivações por trás do aumento do IOF e elencaram os impactos em mercados, negócios e para os consumidores. De acordo com Haroldo da Silva, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), a medida anunciada pelo governo federal é um “equívoco brutal”, já que o IOF tem finalidade extrafiscal - ou seja, serve para regular mercados, não para arrecadação.
“Há impostos que servem para regular os mercados, assim como funciona com o imposto de importação, que aumenta quando há um choque de oferta que pode atrapalhar o seu mercado doméstico, para proteger. No caso do IOF, você deve fazer isso também para viabilizar mais crédito, facilitar ou dificultar algum tipo de operação financeira específica. Mas ele não tem a prerrogativa de ser arrecadatório. Enxergo como um equívoco brutal do governo, explicitar, inclusive, que tem esse objetivo a mudança do IOF”, destacou Haroldo.
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, sinaliza ainda que o aumento do imposto somado ao contingenciamento de R$ 33,1 bilhões no Orçamento de 2025 para cumprimento das regras fiscais mostra que o governo não está enfrentando “o que realmente pressiona as contas públicas”. “É uma decisão que pode até aliviar o caixa no curto prazo, mas impacta negativamente a atividade econômica e o crédito, justamente quando as empresas precisam de fôlego para operar e crescer. O mercado precisa de previsibilidade e sinalizações estruturais, não apenas medidas paliativas”, critica.
Empresas e consumidores sofrem mais
Para Haroldo da Silva, a medida é ruim sob vários aspectos e pesa, sobretudo, para as empresas e consumidores. “É um castigo duplo: você tem a taxa de juros básica em termos reais beirando os 10% ao ano e, para as pessoas físicas, esse valor chega em média a 33% e, para as empresas uns 25%, isso certamente penaliza duplamente. Além dos juros extremamente altos, o IOF”, diz.
Ainda segundo o economista, empresas devem enfrentar dificuldades com pagamento de juros e pedidos de recuperações judiciais devem crescer, já que apenas os grandes grupos financeiros têm acesso a outras linhas de crédito mais acessíveis.
Em relação ao consumidor final, Haroldo chama atenção para os impactos não apenas aos que precisam de recursos de terceiros, mas também porque os preços devem subir. “As empresas têm custo de capital, que é a soma de juros e tributos que são pagos nas suas operações financeiras, e essas empresas todas têm que repassar esses custos que elas têm na conta de capital, assim como todos os outros custos, para os preços dos produtos e dos serviços”, explica.
Ruídos na economia
Ainda que o decreto de aumento do IOF seja derrubado pelo Congresso, Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, avalia que os ruídos já foram gerados. “Quando o governo toma medidas com impacto direto na economia sem qualquer diálogo prévio com o Legislativo, corre o risco de gerar grandes ruídos; e o mercado lê isso como perda de capacidade de articulação e ainda mais fragilidade na condução fiscal”, afirma.
Segundo Eyng, além do aumento na percepção de risco, isso afeta a confiança de investidores e dificulta o planejamento das empresas.