Bahia está entre estados mineradores altamente vulneráveis à mudança do clima, diz relatório
Sede da COP30, Pará é o mais exposto a riscos climáticos, segundo estudo do Observatório da Mineração

Foto: Carla Ornelas/GOVBA
A Bahia está entre os quatro maiores produtores de minério do país sob alta exposição a riscos climáticos e conflitos sociais alimentados pela mudança do clima. O alerta consta do relatório "Riscos Climáticos Cumulativos para Minerais de Transição no Brasil", lançado nesta quarta-feira (23) pelo Observatório da Mineração, think tank voltado ao setor extrativo brasileiro.
Além de Minas Gerais, Pará e Goiás, o Brasil tem apostado no estado baiano para alimentar a transição energética numa espécie de nova corrida do ouro pelo mundo.
Para Maurício Angelo, diretor do Observatório da Mineração, o setor minerário aposta no discurso de que a extração de minerais de transição pode ser ambientalmente sustentável e é essencial para a transição energética, "como se esta expansão fosse ocorrer sem impactos". "O modelo mineral brasileiro não mudou. A narrativa mudou, mas a prática segue igual", avalia.
A percepção de Angelo não é isolada. "É uma ilusão achar que só porque é lítio ou níquel a mineração se torna verde. Ela continua sendo extrativista, poluente e concentradora de impactos", diz a engenheira ambiental Juliana Siqueira-Gay, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Ainda de acordo com o relatório, enquanto longos períodos de seca tendem a colocar mais pressão sobre recursos hídricos, chuvas irregulares aumentam a insegurança de pilhas e barragens de rejeito. Com a saúde e segurança de trabalhadores e comunidades em risco, conflitos e tensões sociais podem se agravar.
Siqueira-Gay lembra que um estudo realizado na Poli-USP constatou que 44% da população que vive em terras indígenas no Brasil pode ser impactada pela extração de minerais críticos. Para ela, a decisão de abrir novas minas deveria ser mais inteligente, levando em conta as reais necessidades do país, o impacto sobre as comunidades afetadas e a probabilidade de secas e eventos extremos.
Para ela, o Brasil precisa de instrumentos melhores para aprimorar o planejamento estratégico na mineração. "A decisão de onde abrir uma mina deveria ser estratégica. Já temos reservas de nióbio suficientes para 200 anos, por exemplo. Por que minerar no Amazonas?"
Anfitrião da COP30 em alto risco
Das oito variáveis climáticas consideradas para os estados analisados, o Pará teve a pontuação mais alta para vulnerabilidade em cinco delas: risco de temperaturas extremas, calor fora de época, perda anual de chuvas, chuvas fortes fora de época, e dias úmidos consecutivos.
Segundo maior produtor mineral do Brasil, o Pará responde por 90% da produção de alumínio e também produz cobre, manganês, níquel e ouro.
Angelo afirma que os fatores de risco apontados pelo relatório já estão sendo sentidos por toda a sociedade brasileira —mas afetam as comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas de maneira desproporcional. "A mineração vem acompanhada de um impacto em série muito grande: rodovias, portos, energia, cidades, desmatamento e pressão sobre áreas protegidas", observa.