Brasil perdeu 96 milhões de hectares desde 1985, aponta MapBiomas
No período, pastagens brasileiras aumentou 60%
Foto: CNA/Wenderson Araujo/Trilux
Um levantamento do MapBiomas, rede da qual o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) faz parte, revelou que cerca de 96 milhões de hectares foram desmatados no Brasil entre 1985 e 2022. Durante o período, a área de pastagens brasileiras aumentou 60%, ganhando 61,4 milhões de hectares.
Os dados também apontam para a consolidação de duas fronteiras de desmatamento, conhecidas como Matopiba e Amacro. O desmatamento no Cerrado, em particular, demonstrou um crescimento alarmante, com metade de sua vegetação nativa já inexistente. A região do Matopiba, principal arco do desmatamento no bioma, ainda abriga 49% de sua vegetação original, mas perdeu 23,6% de suas florestas desde 1985.
Além disso, a área destinada à agricultura na região do Matopiba, que engloba partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, aumentou em impressionantes 220 vezes durante esse período de quase quatro décadas, enquanto as pastagens tiveram um aumento de 252%.
“A conversão das áreas naturais no Cerrado para usos antrópicos têm seguido um padrão territorial bem definido. Antes de 1985, a maior parte desses usos, como agricultura e pastagens, era concentrada no sul do Cerrado”, afirmou Bárbara Costa, pesquisadora do IPAM.
“No entanto, nos últimos 38 anos, notamos que essa perda de vegetação nativa avançou para o interior e o norte do Cerrado, especialmente nas regiões do Bananal e nos estados do Matopiba. Essas regiões são uma das mais ameaçadas do bioma, pois abriga grande parte da vegetação nativa e tem grande importância hídrica para o Brasil”, completou.
A especialista também destaca a importância de políticas públicas contundentes para o Cerrado e a proteção de suas áreas remanescentes. Apesar de ocupar 24% de todo o território nacional, desempenhar um papel fundamental na segurança hídrica e ser um hotspot da biodiversidade mundial, apenas 1,7% do Cerrado está protegido por parques e áreas de conservação.
Código Florestal Brasileiro
De acordo com o Instituto, a perda de vegetação nativa no Brasil se acentuou a partir de 2012, ano da aprovação do Código Florestal Brasileiro. Entre 2008 e 2012, o desmatamento atingiu 5,8 milhões de hectares, mas entre 2012 e 2017, foram derrubados 8 milhões. A tendência fica ainda mais alarmante tendo em vista os dados para o período dos últimos 5 anos, quando foram derrubados cerca de 12,8 milhões de hectares.
“Analisando a perda de cobertura de vegetação nativa agrupada em períodos de 5 anos desde 1992, o período de maior perda foi aquele imediatamente antes da aprovação do Código Florestal em 2012. Mas apesar da redução nos anos que seguem o Código, a perda de vegetação nativa se acelerou muito. Estamos nos distanciando do objetivo de zerar o desmatamento até o final desta década”, explica Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.
Atualmente, um terço da área do país é ocupado por pastagens ou lavouras, enquanto 64% do território ainda preserva sua vegetação nativa. Apenas a soja, principal monocultura brasileira, já ocupa 4,63% do território nacional, cerca de 10 vezes a área ocupada por todas as cidades brasileiras.