Celular de Bolsonaro apreendido em 2023 revela articulações políticas durante governo Lula
Mensagens mostram orientações sobre CPI contra o STF e pressão contra o PL das Fake News

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O celular do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apreendido pela Polícia Federal em maio de 2023, revelou conversas de como o ex-mandatário manteve as articulações políticas com parlamentares e empresários durante o primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A defesa de Bolsonaro afirmou que não vai se manifestar.
O material, que inclui 7.268 arquivos, entre mensagens, áudios, vídeos e documentos, foram analisados e se concentram no período de uma semana anterior à apreensão do aparelho, durante uma operação que investigada fraudes em certificados de vacinação contra Covid-19.
Em um dos diálogos, Bolsonaro orientou o deputado federal Hélio Lopes (PL) a assinar um requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles Alexandre de Moraes.
No dia 26 de abril do mesmo ano, Lopes expressa dúvidas sobre o impacto político da assinatura por meio de um áudio: "A galera tá me pressionando... eu não queria entrar nessa bola dividida, com medo de prejudicar até o senhor mesmo”. Bolsonaro respondeu: “Eu assinaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações”. Na sequência, Lopes confirma: “Já assinei”.
A proposta da CPI foi apresentada inicialmente em 2022 pelo deputado Marcel Van Hattem (Novo), com o objetivo de apurar possíveis abusos de autoridade por parte do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 2023, parlamentares ligados à base bolsonarista tentaram retomar a coleta de assinaturas, mas a comissão acabou não sendo instalada.
Ainda em abril de 2023, Bolsonaro orientou seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), a atuar contra o avanço do Projeto de Lei 2.630/2020, o chamado PL das Fake News. Nas mensagens, Bolsonaro acompanha a tramitação de perto e pressiona para que o texto seja rejeitado no plenário da Câmara. Em 2 de maio, Eduardo informou que o relator, deputado Orlando Silva (PCdoB), havia pedido a retirada da proposta de pauta. Bolsonaro respondeu: “Tem que votar hoje”. Em seguida, Eduardo afirmou que, como líder da minoria, se posicionou a favor da votação.
As mensagens também revelam que o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, teria se oferecido para custear uma viagem internacional de Bolsonaro ao país em 2023.
Em outra frente, o deputado Hélio Lopes chegou a montar uma barraca na Praça dos Três Poderes, em frente ao STF, em um protesto simbólico, com esparadrapo na boca, contra decisões judiciais impostas a Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes. A estrutura foi desmontada por ordem do próprio ministro, que alegou estar tentando evitar situações semelhantes às do 8 de Janeiro. No dia seguinte, a praça foi isolada com grades.