Chefe do órgão eleitoral da Venezuela expõe irregularidades na eleição local
Juan Carlos Delpino Boscán colocou em xeque suposto ataque hacker contra o Conselho Nacional Eleitoral
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O chefe do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Juan Carlos Delpino Boscán, emitiu documento denunciando irregularidades no processo eleitoral e colocando em xeque o suposto ataque hacker contra a entidade, utilizado como justificativa para não divulgar as atas eleitorais, nesta segunda-feira (26).
Essa foi a primeira declaração pública de um membro do CNE apontando para problemas na eleição, que segundo a entidade foi vencida por Nicolás Maduro. Em esforço paralelo, a oposição reuniu e publicou mais de 80% das atas eleitorais, cujos resultados indicam a vitória do opositor Edmundo González Urrutia.
Juan Carlos ainda afirma que a eleição do dia 28 de julho ocorreu sem grandes incidências, mas que o problema surgiu no momento da apuração, quando aconteceu uma série de “descumprimentos de normas e regulamentos essenciais”.
De acordo com o membro do CNE, os progressos deveriam ser enviados para a justiça eleitoral “imediatamente após o encerramento das mesas” eleitorais, o que não ocorreu devido ao suposto ataque hacker.
“Diante da falta dos boletins [de urna], a falta do envio dos QR code aos data center e a falta de uma solução efetiva para o suposto hackeamento, tomei a decisão de não subir a sala de totalização [dos votos] e não acompanhar o anúncio do primeiro boletim”, disse Delpino em nota.
O chefe do CNE também questionou uma série de decisões anteriores a eleição, como a data do pleito, o registro de candidatos e a ausência de observadores internacionais, já que apenas o Carter Center acompanhou a eleição - e posteriormente divulgou nota alegando fraude no processo eleitoral conduzido por Caracas.
"Me opus categoricamente à exclusão desses observadores, considerando que sua presença era crucial para garantir a transparência do processo eleitoral", comentou Delpino.
Delpino denunciou que, no dia das eleições, "houve um descumprimento de normas e regulamentos essenciais, quando foram relatados incidentes de expulsão de testemunhas da oposição durante o fechamento das mesas".
Já os eventos mais preocupantes foram a interrupção na transmissão dos resultados. "Segundo os protocolos, a transmissão dos resultados deveria ser feita imediatamente após o fechamento das mesas. No entanto, foi nesse período que a transmissão foi interrompida e tal interrupção foi justificada por um suposto ataque cibernético, havendo silêncio e um atraso não explicado", relatou Delpino.
Além disso, o chefe do CNE também questionou a data das eleições, dizendo que o pleito deveria ocorrer em outubro: “desde janeiro de 2024, foram avaliadas as possíveis datas para a convocação eleitoral, levando em conta os acordos de Barbados e, posteriormente, o Acordo de Caracas. Minha recomendação foi convocar as eleições para o final de março, com data eleitoral prevista para outubro”. No entanto, o CNE decidiu convocar as eleições para 28 de julho, uma decisão que, segundo o reitor, não permitia um cronograma adequado de atividades e auditorias.
Por causa de todas as irregularidades, Delpino não esteve presente em ato no CNE que ratificou o resultado anunciado pela entidade.