Cinco anos após tragédia, Brumadinho lidera conflitos na mineração no Brasil
Estudo da UFF revela que a cidade mineira registrou 30 ocorrências, em sua maioria vinculadas à tragédia que ocorreu em 2019
Foto: Agência Brasil/Arquivo
Cinco anos após a tragédia que abalou Brumadinho (MG) com o rompimento da barragem da Vale, a cidade se destaca como o epicentro dos conflitos envolvendo a mineração no Brasil, conforme aponta um estudo divulgado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Coordenado pelo geógrafo Luiz Jardim Wanderley, o levantamento revela 30 ocorrências na cidade, a maioria relacionada à devastadora tragédia ocorrida em 25 de janeiro de 2019.
Os atingidos pela tragédia convocaram atos ao longo da semana para prestar homenagens às vítimas e exigir reparação justa e punição dos responsáveis. O estudo, intitulado "Relatório de Conflitos da Mineração no Brasil", foi resultado de uma parceria entre a UFF e o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, representando diversas organizações da sociedade civil.
Desde 2020, Brumadinho tem sido palco de dezenas de mobilizações em busca de reparação, com mais de duas dezenas de comunidades em conflito com a Vale e outras mineradoras locais. A população tem se mobilizado contra violações e negligências, realizando uma média de mais de um protesto por mês.
O estudo destaca que, comparando com 2021, houve um aumento de 22,9% no total de localidades com conflitos envolvendo a mineração em 2022. No último ano, foram registradas 45 mortes relacionadas à atividade minerária, concentradas principalmente em Minas Gerais (37,5%), Pará (12,0%) e Amazonas (7,4%).
A Vale, empresa líder no setor, é apontada no relatório com 115 ocorrências, representando 24% do total. O garimpo ilegal também é abordado, com 270 conflitos mapeados, nos quais os indígenas são o grupo social mais violado, respondendo por 31,9% dessas ocorrências.
O estudo sistematiza conflitos em meio rural e urbano, incluindo casos envolvendo mineradoras e grupos que exploram o garimpo ilegal. Os registros abrangem perdas de vidas, remoções forçadas, pressões e ameaças. Luiz Jardim Wanderley destaca que os danos vão desde o sofrimento humano até a desestruturação do tecido social das comunidades afetadas, evidenciando a mineração como uma atividade com graves violações de direitos humanos e ambientais, especialmente entre os mais pobres, indígenas e negros.