Covid-19: "No Brasil há muita briga, confusão e falta de liderança nacional", afirma pesquisador após país alcançar segundo lugar em mortes
País ultrapassou o Reino Unido na sexta-feira

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Desde ontem (12), o Brasil se tornou o segundo país do mundo onde o coronavírus mais matou, com 41.901 mortes registrados em menos de três meses, de acordo com dados compilados pelo consórcio de veículos de imprensa a partir das bases das secretarias estaduais de Saúde. As 843 mortes registradas em 24 horas levaram o país a ultrapassar o total do Reino Unido (41.566), ficando atrás apenas dos EUA (114.613).
Dos três, porém, o Brasil é o único onde a epidemia ainda cresce."A epidemia no Reino Unido está na descendente há varias semanas, mas no Brasil está na ascendente", destaca Ricardo Schnekenberg, médico pesquisador da Universidade de Oxford que integra grupo dedicado a estudar a dinâmica da pandemia no mundo. Na opinião do cientista, os três países nutriram epidemias de grandes dimensões, em parte, por erros de gestão nos primeiros meses do ano.
O Brasil, porém, possui um problema mais crônico do que as outras duas nações para articular o combate à pandemia em nível nacional. "No Reino Unido, diferentes regiões do país seguiram a mesma recomendação, e isso foi importante, enquanto no Brasil há muita briga, confusão e falta de liderança nacional", diz o médico, coautor do relatório coordenado pelo Imperial College de Londres sobre o Brasil.
No Brasil, a trajetória da epidemia foi diferente. Estados e municípios grandes foram relativamente ágeis em anunciar recomendações de isolamento social, como fechamento de escolas e comércio, mas os elogios dos cientistas à gestão brasileira da epidemia param por aí. "A resposta do Brasil foi bastante inicial mesmo", explica Wesley Cota, pesquisador visitante da Universidade de Zaragoza, na Espanha, que integra o projeto CovidBR, para monitorar o Brasil, em colaboração com a Universidade Federal de Viçosa (MG).
Ele argumenta, porém, que uma contenção abaixo do desejado nas capitais acabou por deixar a situação transbordar para o interior, que agora alimenta boa parte dos números do surto. Segundo Cota, não cabe, neste momento, comparar o Brasil com outros países europeus que tiveram surtos grandes."Aqui na Espanha ocorreu um fechamento muito rígido em março, a gente ficou num lockdown completo por dois meses. Ninguém podia fazer praticamente nada fora de casa a não ser ir ao supermercado", conta.